sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pão e Circo


Todos os portugueses terão sentido um calafrio com o desaire da nossa selecção no Europeu, José Sócrates tê-lo-á sentido ainda mais.


José Eduardo Moniz, director geral da TVI, disse numa crónica ao diário desportivo Record que «A Sócrates este Europeu não podia ter corrido pior». Tomo-lhe o mote.


Se olharmos um pouco à nossa volta à excepção do Futebol, das romarias religiosas e Marchas Populares poucos são hoje os eventos dignos do exaltar do sentimento de pertença.


Pois é, tantos anos volvidos e continuamos a ser um país de “Fado, Futebol e Fátima”.


Mas é no Futebol que me concentro hoje.


Recordemos 2004 já que os últimos anos, por força da distância e dos resultados desportivos tiveram menor exuberância.


Bandeiras desfraldas nas janelas, milhares de pessoas envergando orgulhosamente o verde-rubro, cantando com fervor o nome de Portugal, um País unido em torno de um só objectivo, um País em que brancos e negros, cristãos e muçulmanos, ricos e pobres se uniram com o mesmo entusiasmo exaltando efusivamente os feitos da sua nação.


Se atendermos áquilo que tem sido a conjuntura do nosso Portugal nos últimos anos percebemos que o Futebol tem sido um escape para o défice, para o desemprego, para a fome.


Cada finta de um Cristiano Ronaldo, cada remate certeiro de um Nuno Gomes enche um País de entusiasmo, transmite-lhe sinais positivos, dá motivos para que até o menos bafejado pela sorte possa rejubilar de alegria.


É precisamente deste folclore que vive a politica: Massas, festa, adesão. Não admira pois que o poder político se tente por vezes imiscuir no mundo do Futebol, é a famosa máxima romana do “Pão e Circo”.


Infelizmente para José Sócrates o guarda-redes Ricardo teve uma noite desinspirada. A armada alemã derrubou as defesas lusas numa altura em que o governo socialista se encontrava debaixo de fogo com motins, greves, cortes de abastecimento e para desespero do Governo, como derrota portuguesa no Euro não é viável nem para audiências nem para vendas, a comunicação social voltou a apontar baterias à situação de Estado de sítio que o Pais atravessa.


Aproxima-se 2009 e com ele as eleições legislativas. Será interessante ver a mudança de postura de José Sócrates, um Primeiro-Ministro que irá perpassar a imagem de menos colérico, mais tolerante para com as exigências do povo, mais terra-a-terra. Só assim poderá evitar um aumento da Esquerda (PCP+BE) que lhe retirará a maioria absoluta.


Ou muito me engano ou ainda vai dar incentivos fiscais à Nereida para maiores ganhos de produtividade do nosso Ronaldo. A ver vamos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Euro 2008: Sonho Esfumado

E terminou com uma derrota o sonho luso.

Muitos dirão que terá sido inesperado, que esta selecção tinha potencial para augurar chegar mais longe na competição.

Infelizmente o futebol não se joga com a precisão matemática e pequenos momentos e erros colectivos deitam tudo a perder.

Este foi sobretudo um Euro ambivalente no que toca aos objectivos a atingir. Scolari foi peremptório ao definir como objectivo máximo atingir as meias finais, mas fazê-lo jogo a jogo evitando assim pressão acrescida para os seus pupilos.

Não sei se por motivos de marketing televisivo o broadcaster português que adquiriu os direitos sempre fez perpassar a mensagem de que o objectivo era «chegar a Viena», «levantar a taça». Estranhas estas disparidades entre o discurso oficial e aquele que de quem tem interesses mediáticos..

Culturalmente somos um país que lida mal com o sucesso, basta uma vista de olhos pela história da fundação do nosso país para verificarmos que o Português tem o desenrascanço entranhado no sangue e que é nos momentos em que ninguém nos dá crédito que mostramos de que massa somos feitos. Foi assim em Aljubarrota, foi assim na construção dos Estádios do Euro é assim em tudo.

Portugal não rima definitivamente com superioridade. Ao contrário de outras imprensas que são mais acutilantes nas críticas aos seus jogadores a nossa tece rasgados elogios mesmo que se tratem de jogadores sem provas dadas a nível de selecção. Não que não tenham sido meritórios mas cria-se um estatuto que por vezes não se coaduna com a postura em campo.

O Euro, apelidado pela imprensa do “Ronaldo e Companhia” foi mais companhia do que Ronaldo. Excessivo mediatismo, muitos lances com fintas injustificadas, inúmeras perdas de bola em fase de construção que desequilibraram a equipa. Não foi o Euro do Ronaldo.

Outro aspecto que quebrou a dinâmica da selecção foi o abrir de precedentes de Scolari. Alguém que pede aos jogadores para concentrarem baterias para o euro e esquecerem eventuais contratos e que depois, após a garantia de qualificação anuncia o desertar perde algum respeito. Todos sabemos que estes estágios desportivos vivem num clima “big-brothiano”, ou seja, que devido à exclusão do mundo exterior qualquer estimulo tem uma dimensão incomensuravelmente maior do que se vivido no dia-a-dia. Como se sentirá algum atleta quando alguém que nos jurou lealdade sai alegando motivações financeiras?

Foi uma saída duplamente inglória para Scolari. Mas não esqueceremos o quanto fez pelo nosso país. Nunca.