Imagine uma partida de damas. Mandam as regras que cada jogador tenha peças de uma só cor. Não há qualquer dificuldade em identificar as suas peças e as pertencentes ao adversário.
Agora imagine que as regras mudaram e que, mandam agora as directrizes, cada jogador deve jogar com metade de peças brancas e a outra metade preta. Com o decorrer do jogo como é que as irão distinguir? Quais pertencem a quem?
Aparentemente infundado o exemplo é uma alegoria às novas técnicas de fazer guerra, em suma, ao novo terrorismo: o Neoterrorismo.
Se no passado os confrontos eram frontais, disputados entre dois Estados, exércitos ou facções rivais, ambos geograficamente identificáveis e territorialmente distanciados com o surgimento do Neoterrorismo tudo isso mudou.
O primeiro ponto pretende-se com a organização dos dissidentes. À estrutura convencional em bloco de um exército contrapõe-se a estrutura em rede adoptada pelas organizações terroristas. Embora igualmente hierarquizadas estas redes actuam recorrendo a múltiplas células autosuficentes disseminadas por todo o globo.
O grande dilema no combate ao novo terrorismo é que o plano militar é, cada vez mais, secundário.
Não existe nenhum exército capaz de derrotar um inimigo que está omnipresente, que não se enclausura no seu próprio território até o último bastião cair. O combate deixou de ser focalizado, não há uma frente de batalha, mas sim milhares de frentes prontas a eclodir, em qualquer parte do mundo. Já não existe um período temporal definido, o combate é sazonal.
O recurso a uma guerra mediante os métodos tradicionais, Paleoguerra, um conceito de Umberto Eco, tornou-se obsoleto. Será impossível a um exército combater em todo o mundo e a supremacia bélica deixou de ter capital importância para a consecução da vitória.
O combate deixou de ser travado pela força mas sim pela informação.
Ponto dois. O inimigo está entre nós.
Deixou, muitas vezes, de ter uma nacionalidade diferente da nossa, deixou de usar uma caracterização militarizada com insígnias do inimigo, estuda nas mesmas universidades que nós, partilha os mesmos transportes, o mesmo bairro. O Neoterrorismo está disseminado bem no interior das sociedades ocidentais.
Os inimigos deixaram de ser os Afegãos ou os Iraquianos mas células terroristas compostas por membros multi-étnicos.
Como combater um inimigo sem resto, sem localização precisa?
Só com forças policiais dotadas de serviços de investigação e espionagem será possível prever ataques e desmantelar, à raiz, células terroristas. A guerra é feita por antecipação, uma guerra preventiva nomeadamente no combate ao financiamento bancário e tráfico de armas. Em tudo o Neoterrorismo aproveitou as brechas deixadas pelo capitalismo moderno: mobilidade, facilidade de procedimentos, operações via electrónica.
Ponto três. O Inimigo sairá sempre vencedor.
Independentemente de objectivos prioritários, o principal intuito de uma organização terrorista é disseminar o medo no seio das sociedades.
Tendo o neoterrorismo uma forte componente psicológica , o inimigo aproveita a mediatização das sociedades que ataca e granjeia da redifusão massiva que os atentados têm nos media para espalhar o temor. É publicidade gratuita.
Mesmo que o seu atentado falhe, a simples difusão de noticias sobre os planos gorados perpassarão o medo para as populações.
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