Num contexto em que a discussão política vem perdendo substância e se centra, cada vez mais, na injúria verbal entre os seus protagonistas afinal ainda há espaço para as ideias.
Esta semana, numa conferência de imprensa na Assembleia da República, o CDS-PP apresentou uma proposta concreta que merece, pelo menos, ser tida em conta: a venda de medicamentos em unidose.
Num país hipocondríaco, o Serviço Nacional de Saúde prevê gastar, segundo o orçamento de Estado para este ano, 1500 milhões de euros na compra de medicamentos.
Segundo palavras da deputada Teresa Caeiro «10% dos medicamentos vendidos não são consumidos».
Penso que este número pecará (largamente) por defeito pois só deverá ter em conta os medicamentos entregues nas farmácias, dado que aqueles que são deitados ao lixo dificilmente poderão ser contabilizados.
Como sabemos, até da nossa experiência pessoal, raramente damos uso a todas as cápsulas dos medicamentos que nos são prescritos. Mas nem por isso deixamos de pagar a totalidade do fármaco.
Numa altura de racionalização de custos com a Saúde que lógica terá para o Estado português manter um negócio que só beneficia uma de três partes?
Nem ao Estado interessa ficar ainda maior devedor em relação à indústria farmacêutica, nem aos doentes interessa pagar a totalidade de algo de que só fazem uso de parte.
Deixar as coisas no estado em que estão apenas beneficia o lobby farmacêutico.
Em reacção à medida proposta pelo CDS o presidente da Associação Portuguesa de Indústria farmacêutica disse o seguinte: «Mexer na embalagem original do medicamento que foi testada, validada e produzida em ambiente estéril, muitas vezes com uma série de condicionantes, para fazer uma dispensa individualizada leva-nos a abrir uma porta que possa eventualmente ocasionar mais erros e a permitir algum tipo de falsificação».
Alguém acha crível que haja complicações técnicas para embalar um comprimido ao invés de dez?
Felizmente na análise do discurso existe uma coisa chamada pragmática que permite interpretar os conteúdos metalinguisticos. Em traço simples isto significa perceber as intenções para lá daquilo que é dito.
Quando se confronta o presidente de uma associação com uma medida que beneficia os compradores e ele se limita a falar de medidas de segurança e a demonstrar preocupações com uma eventual contrafacção dos fármacos isto denota que, para a indústria farmacêutica, os medicamentos são encarados como um bem comercial e não como um bem público. Primeiro o lucro, depois os doentes.
Só assim compreendemos que não foi por acaso que os genéricos tiveram tantas dificuldades de implementação.
A proposta do CDS aponta para uma poupança de 140 milhões de euros por parte do Estado e compradores caso o esquema da venda de medicamentos unidose entre em vigor. Sem dúvida uma medida de grande utilidade para o país.
Mas caso alguma vez entre em vigor serão precisas muitas unidoses de Rennie para curar a indigestão a muita boa gente.
Esta semana, numa conferência de imprensa na Assembleia da República, o CDS-PP apresentou uma proposta concreta que merece, pelo menos, ser tida em conta: a venda de medicamentos em unidose.
Num país hipocondríaco, o Serviço Nacional de Saúde prevê gastar, segundo o orçamento de Estado para este ano, 1500 milhões de euros na compra de medicamentos.
Segundo palavras da deputada Teresa Caeiro «10% dos medicamentos vendidos não são consumidos».
Penso que este número pecará (largamente) por defeito pois só deverá ter em conta os medicamentos entregues nas farmácias, dado que aqueles que são deitados ao lixo dificilmente poderão ser contabilizados.
Como sabemos, até da nossa experiência pessoal, raramente damos uso a todas as cápsulas dos medicamentos que nos são prescritos. Mas nem por isso deixamos de pagar a totalidade do fármaco.
Numa altura de racionalização de custos com a Saúde que lógica terá para o Estado português manter um negócio que só beneficia uma de três partes?
Nem ao Estado interessa ficar ainda maior devedor em relação à indústria farmacêutica, nem aos doentes interessa pagar a totalidade de algo de que só fazem uso de parte.
Deixar as coisas no estado em que estão apenas beneficia o lobby farmacêutico.
Em reacção à medida proposta pelo CDS o presidente da Associação Portuguesa de Indústria farmacêutica disse o seguinte: «Mexer na embalagem original do medicamento que foi testada, validada e produzida em ambiente estéril, muitas vezes com uma série de condicionantes, para fazer uma dispensa individualizada leva-nos a abrir uma porta que possa eventualmente ocasionar mais erros e a permitir algum tipo de falsificação».
Alguém acha crível que haja complicações técnicas para embalar um comprimido ao invés de dez?
Felizmente na análise do discurso existe uma coisa chamada pragmática que permite interpretar os conteúdos metalinguisticos. Em traço simples isto significa perceber as intenções para lá daquilo que é dito.
Quando se confronta o presidente de uma associação com uma medida que beneficia os compradores e ele se limita a falar de medidas de segurança e a demonstrar preocupações com uma eventual contrafacção dos fármacos isto denota que, para a indústria farmacêutica, os medicamentos são encarados como um bem comercial e não como um bem público. Primeiro o lucro, depois os doentes.
Só assim compreendemos que não foi por acaso que os genéricos tiveram tantas dificuldades de implementação.
A proposta do CDS aponta para uma poupança de 140 milhões de euros por parte do Estado e compradores caso o esquema da venda de medicamentos unidose entre em vigor. Sem dúvida uma medida de grande utilidade para o país.
Mas caso alguma vez entre em vigor serão precisas muitas unidoses de Rennie para curar a indigestão a muita boa gente.
Sobre este tema emergem algumas reflexões importantes que vou partilhar….
ResponderEliminarAtravés dos diversificados meios de comunicação, somos bombardeados com notícias que se traduzem uma ligeira, mas polémica sensação que os medicamentos vendidos em formato unidose são determinantes e benéficos para a redução das despesas no nosso país.
A primeira constatação a reter será que o sistema unidose que pretendem implementar nas farmácias não funciona de igual forma como no Hospital. Esta ideia torna-se relevante para entender os exemplos a seguir enunciados.
Falando em situações práticas:
1- Anti-inflamatórios e Anti-piréticos não são contemplados já que os mesmos são neste momento de venda não sujeita a prescrição médica.
2 - Deixando de parte antibióticos que assumem um carácter imperativo de serem tomados na totalidade da dosagem sob risco de agravamento da situação clínica. Falando de doenças crónicas, cuja sintomatologia para ser devidamente controlada será inevitavelmente acompanhada pela administração de fármacos durante toda a vida. Para doentes com este tipo de doenças existem, por exemplo, caixas de fármacos que contem 100 cápsulas qual é a diferença entre levar uma caixa ou levar 100 comprimidos para casa? Não encontro nenhuma!
3- Outra situação importante que ocorre no nosso país com frequência é que a maior parte dos doentes se auto intitula como médico e enfermeiro se si próprio e para alem das complicações que acarreta a auto administração de fármacos sem conhecimento do médico ou enfermeiro, quando lhe é prescrito uma caixa de determinado medicamento resolvem simplesmente deixar de o tomar apenas porque se sentem melhor... Provavelmente o que ficou por avisar a estes doentes é que a caixa é para tomar até ao FIM e só assim o organismo consegue reagir de uma forma mais positiva face a patologia em causa.
A redução de custos não passa por colocar ao dispor fármacos em formato unidose nas farmácias, mas sim uma mudança de mentalidade dos utentes no sentido de consumirem o conteúdo até ao fim, o que se repararmos coincide com prescrição médica.