sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

No Smoke


Alguma vez pensou que a sua saúde pode ser uma mais valia económica?

É certo que já lá vão os tempos da Idade Média em que as epidemias eram a forma de regular demograficamente as sociedades e equilibrar a equação entre recursos e população. Apesar de distante e inusitada ainda na era em que nos encontramos a saúde das populações pode ser visto como um principio regulador.

Tomemos o tabaco como exemplo.

O que leva um Estado a lançar, de um momento para o outro, uma autêntica "caça às bruxas" contra os fumadores?

Sendo um dos vicios que, através da tributação, mais lucros trás para o Estado como explicar esta série de medidas restritivas?

Quem nunca ouviu falar na máxima clássica "Mente sana en cuerpo sano"? A lógica contemporânea impregnada pelos conceitos do marketing e da economia levou até à dimensão laboral as exigências de uma sociedade saudável.

As variáveis são simples. Segundo este principio um funcionário que preze pela sua saúde será, à partida, mais eficaz que os restantes, terá menos pausas durante o horário de expediente já para não falar da sua durabilidade.

No fundo estas alterações da lei do tabaco fundam-se na crise do modelo Estado Social. O provimento de serviços públicos nas sociedades democráticas ocidentais começou a entrar em crise, estranhe-se, devido às melhorias das condições de vida e dos avanços na medicina.

Quero com isto dizer que o modelo contributivo começou a entrar em crise no momento em que a esperança média de vida aumentou e os rendimentos da população activa começaram a afigurar-se diminutos face aos custos crescentes com a população não-activa. Caso as coisas se mantivessem conforme estavam o sistema da segurança social iria falir num futuro próximo.

Como relacionar isto com a nova lei do tabaco?

Simples.

A lei do tabaco deve ser vista como uma de várias medidas faseadas. A primeira foi o aumento da idade de reforma para os 65 como garantia de mais contribuições por parte da população activa durante mais anos. As restantes medidas incidem sobre vários dominios que vão desde a alimentação à prática desportiva.

O combate à fast-food e ao consumo de álcool e o incentivo à prática desportiva através da aplicação da taxa mínima de IVA em ginásios representam medidas que têm como fim melhorar a saúde dos cidadãos. Um cidadão que cuide da sua saúde terá uma durabilidade maior, logo mais anos contributivos, logo será um garante para o equilibrio das finanças públicas.

A nova lei do tabaco denota uma aproximação entre a Economia quantitativa e a Sociologia comportamental ao analisar os fenómenos contemporâneos à luz do pensamento económico. No fundo representa o regresso da ciência económica às origens, ou seja, a aplicação dos estudos de Adam Smith enquanto influência do capitalismo no comportamento humano.

ps - Se puder deixe mesmo de fumar. Todos ganham com isso

3 comentários:

  1. A lei do tabaco... a nova frente na luta contra o terrorismo?!
    Tanto se pode escrever sobre este tema. Podemos comentar a sua justiça, afinal deverá o fumador activo ser penalizado pelo fumador passivo ou vice versa? Podemos criticar a forma “atabalhoada” como esta lei foi aprovada. Podemos ficar abismados com o facto do presidente da ASAE, após ter sido “apanhado” a fumar no casino no dia 1 de Janeiro ter ido ao parlamento explicar aos próprios senhores que assinaram a lei, o que nela consta. Podemos falar sobre as duvidas que aplicação desta lei tem levando e a flexibilidade que isso gerou ao longo dos últimos dois meses na aplicação, aparentemente indiscriminada, de autocolantes vermelhos e azuis por aqui e por ali. Tanto se pode escrever...
    Mas facto é que a lei saiu, os não fumadores estão contentes, e tem boa razões para isso. O governo parece ter chegado a conclusão que promover medidas de saúde e educar as pessoas é um processo demasiado lento, caro e ineficaz. Venham as proibições... é ilegal fumar na maioria dos estabelecimentos.
    Mas o que seria interessante nesta questão era tirar o tabaco da lei do tabaco ao analisa-la de forma a ter uma visão um pouco mais abrangente “it’s the big picture, you know?”
    Inglaterra, berço das revoluções liberais, desresponsabilizou o Sistema Nacional de Saúde, libertando-o de encargos com doentes vitimas de problemas relacionados ao consumo de tabaco. Ninguém vê aqui um problema?
    Poderia explicar porque acho que ir aos EUA, onde não existe SNS publico, e trazer a medida para a Europa é errado e mesmo um pouco imoral, na minha opinião. Mas esse essa função é do nosso João Pinto, que aliás tão bem a tem desempenhado. :)
    Mas pense-se nisto: taxaram-se os veículos poluentes porque é mau para o ambiente, o uso de água e electricidade também foram afectados, os produtos petrolíferos, todos nós sabemos, impostos para cima. Proibiram-nos de conduzir sem usar o cinto de segurança, é mau para a nossa vida, o tabaco em recintos públicos e por ai fora.... amanhã deveremos estar a sobretaxar as comidas de plástico, proibir o uso de sapatos apertados, punir quem não faz exercício físico, prender quem leva vidas stressantes e porque não deixar de sustentar com dinheiros públicos os encargos de saúde com as constipações? Afinal as pessoas teimam em apanhar frio....!
    A questão não deve ser se devemos ou não poder fumar e aonde, mas sim desde quando é que o estado passou a ter o direito de controlar as nossas acções através das ferramentas fiscais que foram criadas para nos ajudar?!
    O não fumador hoje ganha, e como fumador fico satisfeito com isso, mas e amanha? E quando o proibirem de fazer pausas no seu emprego para comer porque engorda e é improdutivo para a economia do nosso pais?
    Hoje foi o tabaco. E amanha?

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  2. Estava pronto para comentar sobre este assunto, mas li o comentário do Ricardo e só tenho a dizer o seguinte: "Faço minhas as palavras do Ricardo Madeira."

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  3. ....Tenho a dizer que com 43 anos que tenho, já deixei de fumar a oito e fazendo uma retrospectiva da minha vida, ter fumado, foi o que mais lamentei.
    ….E o que era triste, nos espaços nocturnos especialmente fechados, o fumo era tal, que os olhos ficavam tão irritados e os pulmões tornando-se insuportável.
    Para não falar no odor horrível que ficava impregnado na roupa.
    Toda medicina fala do fumo do tabaco, como sendo a causa de inúmeras doenças cardiovasculares, do cancro do pulmão etc. Porquê fumar? Fica a questão no ar…

    Rui Ferreira

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