domingo, 24 de junho de 2007

Donos da Bola


O inevitável aconteceu.


Num outro artigo fiz referência às mudanças que se têm operado no futebol moderno. Embora através da prática desportiva a fachada dos clubes permaneça a mesma todos os seus alicerces mudaram.


Ao clube desportivo sobrepõe-se o clube-empresa, o adepto, através das relações públicas e departamentos de comunicação, deixa de ser visto como um apaixonado pelo emblema mas como cliente, potencial consumidor.



Mas o parâmetro que mais equipara o mundo do futebol com o empresarial é a constituição de SADS (Sociedades Anónimas Desportivas) e, concomitantemente, a cotação em bolsa.


A entrada dos clubes em bolsa torna-os vulneráveis a terceiros mas também o responsabiliza pois todas as operações passam a ter a obrigação de serem reportadas a comissões de valores.


A gestão passa a ter que ser coerente dado estar-se a gerir capital de accionistas que, em tempo real, poderão penalizar o clube através da venda (e consequente desvalorização) das acções.


Ao entrar no mundo bolsista e à semelhança de qualquer empresa, os clubes de futebol passam a ter um preço, passam a ser vendíveis.


O fenómeno de compra de clubes começou precisamente há 21 anos quando o ex-presidente Italiano Silvio Berlusconi comprou o AC Milan por 59 milhões de euros.


Mais recentemente a liga inglesa tem sido o paradigma do investimento de magnatas em clubes de futebol onde se destacam as compras do Chelsea, em 2003, por Roman Abramovich (163 milhões de euros), do Manchester United, em 2005, por Malcolm Glazer (1,1 mil milhões de euros) e do Liverpool, em 2007, por George Gillet e Tom Hicks (321 milhões de euros). Mas também West Ham, Aston Villa, Portsmouth, Fulham e Newcastle pertencem a multimilionários.



Em Portugal, à semelhança de outras coisas, esta realidade chegou tarde.


Joe Berardo, através da Metalgest, lançou uma Oferta Pública de aquisição sobre 60% (9 milhões de acções de categoria B) do capital da Benfica SAD. Acontece que ao contrário das mais recentes OPAS lançadas em Portugal nos tempos mais recentes (Sonae/PT ou BCP/BPI) [nas quais curiosamente Berardo teve influência no seu desfecho] a OPA lançada ao Benfica não é revestida do carácter coercivo das anteriores.



Para qualquer teórico de Marketing um factor decisivo para que uma marca seja apetecível para o mercado é que ela transmita valores para os consumidores. A Vodafone quer perpassar uma ideia de dinamismo, a MTV de irreverência, a Mcdonals de pragmatismo. A marca Benfica vende-se por si própria e ao contrário da maior parte das marcas comerciais não tem rosto, tem alma.


Enquanto empresário Berardo só investe com a intenção de ter contrapartidas e retorno financeiro.


Recuperado da profunda crise que atravessou na última década o Sport Lisboa e Benfica tem as suas contas em processo de equilíbrio, a maioria das dividas saldadas e tem apostado no património imobiliário (Estádio da Luz e Caixa Futebol Campus). O Benfica é o clube com mais associados (mais de 160 mil), figura entre os dez clubes míticos do mundo e tem uma dimensão global nos países de língua oficial portuguesa de que poucos clubes do mundo se poderão gabar.


E que empresa nacional conseguiria, apesar de dez anos de gestão danosa, manter essa projecção internacional?



Apesar da dinâmica actual o ex-ministro Bagão Félix considera que o Benfica se encontra «subvalorizado» e dá como exemplo do caso do Villareal, uma equipa de uma cidade com 45 mil habitantes, que «ganha três vezes mais que o Benfica em direitos televisivos.» Para Berardo há muita gente a ganhar dinheiro à custa do Benfica.


2 comentários:

  1. Isto das OPA´s está na moda, e eu também estava a pensar em lançar uma OPA á Angelina Jolie. Mas não é uma daquelas OPA´s por dinheiro, é sim uma OPA do coração, uma OPA sentimental, primeiro tenho é de notificar a CMVM que quero 51% da Angelina.

    ResponderEliminar

A sua opinião conta. Faça-se ouvir enviando um comentário