sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Boas Festas


Retrospectiva de 2008 e conjecturas sobre aquilo que nos espera em 2009:

Economia: Não se avizinham tempos fáceis. Vêm aí falências, despedimentos em massa, fusões para fugir à crise. 2008 será recordado como o ano do declínio irreversível do capitalismo selvagem. Num contexto de pouca liquidez e incerteza em relação aos agentes económicos levará o seu tempo até que banca e investidores voltem a confiar no novo sistema. Resta saber o que nos espera.

Politica: Menor margem de manobra. 2009 será um ano de fogo para a classe política. Pairam dúvidas sobre o papel da União Europeia a 27, sobre o rumo da política Norte-Americana e sobre o espectro expansionista do bloco Chinês. As sucessivas crises económica, social e identitária criaram um terreno fértil à ascensão dos regimes extremistas, com especial ênfase para a Direita. Ou os Estados se tornam mais sociais ou então deveremos levar o aviso dos jovens gregos bem a sério.

Futebol: O pós-Scolari deveria ter sido acautelado de outra forma. A Equipa Nacional sofre de uma carência de liderança dentro e fora do campo. Depois da saída de muitos jogadores históricos não se vislumbram sucessores óbvios aos seus lugares. Com a crise a chegar também ao Futebol é bom que os clubes nacionais apostem menos na compra e mais na formação. A Selecção e o Futebol Português agradecerão.

Educação: Quando no sistema de educação se discute mais a figura do professor do que a do aluno algo vai mal. Que se trabalhe no sentir da concertação, educação ainda pode ser um sector de prestígio, haja bom senso.

Cultura: Em tempos de crise, os cortes orçamentais fazem-se sentir com mais acuidade no campo artístico. Sem pretensões a ser o ópio do povo é necessário investir-se mais na arte. Qualquer área que seja evasiva ajudará a dissipar, mesmo que por instantes, os pensamentos menos optimistas. O Homem sonha, o Mundo avança.

Desejo de Boas Festas a todos os leitores do Observador XXI.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Educação: Déjà Vu


Está a precisar de emprego ou apenas descontente com o que tem neste momento?


Imagine uma profissão em que ter vocação não é um imperativo para que a exerça, imagine uma profissão em que não terá contrapartidas negativas mesmo que não a execute com todo o profissionalismo devido, uma profissão em que todos os que nela ingressam podem aspirar ao topo da hierarquia, uma profissão em que a progressão é automática, uma profissão em que é a variável tempo que determina a subida de estatuto e não a qualidade do serviço prestado, em que a fiscalização é esporádica e pouco rigorosa.

Interessado?

Temo que esta profissão tão apetecível esteja com os dias contados. Falava-vos da profissão de Professor até à entrada em cena da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.

Durante as três décadas que se sucederam ao 25 de Abril a educação tornou-se um sector estagnado.

Apesar de ter sido uma «paixão» de muitos executivos nenhum conseguiu instaurar as tão proclamadas reformas. Sempre que chegava a altura de proceder a mudanças estruturais e se consciencializavam da dimensão das repercussões politicas que teria reformar um sector que envolve um universo tão vasto (famílias inteiras, professores e pessoal não docente) o resultado foi sempre um, manter tudo na mesma.

Durante mais de 30 anos os professores mantiveram o seu status quo intocável, não souberam adaptar-se aos tempos e continuaram a ensinar nos mesmo moldes em que os seus antepassados foram ensinados e continuaram a conceber a escola como um depositário do trabalho individual e não como uma comunidade.

O professor, geralmente mostruário de conteúdos programáticos, apenas ganhou consciência de que integrava uma comunidade aquando de manifestações ou protestos para manter as suas regalias.


É assinalável verificar a imensa mobilização num sector que sempre esteve de costas voltadas para si mesmo

Durante mais de 30 anos pouco mais se exigiu aos professores para além de dar aulas.

Trinta anos depois o Mundo mudou, as crianças estão mais despertas para o que as rodeia, o trabalho em rede e em pares tornou-se um imperativo para o sucesso de qualquer organização, as carreiras deixaram de ser vitalícias (o tão afamado trabalho para a vida vem perdendo expressão) tendo vindo a transformar-se num sistema de trabalho especializado, sazonal e onde vêm a ganhar importância os sistemas meritórios de compensação, muitas vezes mediados por instituições externas.

Talvez a astronomia e astrofísica não sejam domínios de que a maioria dos professores esteja inteirado mas convém perceberem que o Mundo nunca parou de efectuar os seus movimentos de translação. Já não é necessário pagar-se indulgências para se conseguir um lugar no paraíso divino, já ninguém paga corveias para trabalhar nos grandes latifúndios, as mulheres já se emanciparam, o Mundo mudou..

Nos últimos meses temos assistido a greves, manifestações, protestos, motins. Mais do que propostas palpáveis, os acontecimentos mediáticos apenas têm visado criar ruído, denegrir a imagem pública de membros governativos, causar mossa política, criar forças de bloqueio para a execução das reformas, o objectivo não é discutir nada, é criar um ambiente tão hostil que torne as mudanças inviáveis, de preferência afastando a Ministra.

A política dos Sindicatos, encabeçada pelo líder da FENPROF, Mário Nogueira, tem sido essa, um autêntico braço-de-ferro que pretende jogar com os tempos mediático e político aproveitando a demagogia para interesses corporativos.

Num protesto feito de frases feitas, em que muitos protestam sem opinião formada ou sem consciência do que vai mudar, gera-se uma onda de repulsa à mudança porque ela acarreta perda de privilégios.

Os professores não querem ser avaliados pelos pares, não querem quotização na progressão das carreiras, não querem que os pais sejam envolvidos no processo de avaliação, apenas querem um «modelo de avaliação justo», de preferência em que sejam eles próprios a autoavaliar-se, um embuste de avaliação que de nada servirá.

Todos querem reformas menos quando elas colidem com as suas regalias.

Saberão os professores o que realmente querem? Tenho dúvidas.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

CR7: Chegar, Ver, Vencer


Uma inevitabilidade.

Assim poderemos descrever a consagração de Cristiano Ronaldo como o melhor jogador do Mundo, um Prémio atribuído pela revista France Football.

Seria uma autêntica heresia futebolística não atribuir este prémio ao jogador português. Se anos houve em que a votação para melhor do mundo foi pautada por indefinições causadas por performances equivalentes entre os candidatos era sabido que, para edição deste ano, Cristiano Ronaldo levava uma imensa vantagem. Só uma votação inquinada por critérios muito subjectivos ou lobbies federativos poderia retirar ao português o título.

Cristiano Ronaldo fez uma temporada a roçar o perfeito, tanto a nível colectivo como individual.

Foi seguramente o melhor jogador a actuar em Inglaterra, foi concomitantemente o melhor jovem, o melhor marcador no campeonato, um dos melhores assistentes para golo, o melhor marcador dos campeonatos europeus, o melhor marcador da Liga dos Campeões, o vencedor do campeonato Inglês, o vencedor da Liga dos Campeões, marcou de cabeça, marcou de pé esquerdo, marcou de direito, marcou de calcanhar, marcou de livre, marcou, marcou, marcou por 42 vezes.

É sabido que no futebol o talento não é tudo e que, em muitos dos casos, anda de braço dado com a sorte.

Ronaldo soube sempre aproveitar as oportunidades que teve quando despontou no Sporting, pelas mãos de Lazlo Boloni em 2002. De corpo franzino mas com velocidade estonteante, fintas arrojadas e sem medo de arriscar Ronaldo dissipou de imediato as dúvidas de quem não lhe augurava um futuro promissor.

O talento formado na academia leonina, apesar da tenra idade, voltou a não se deixar intimidar pelos adversários e numa exibição que podemos apelidar, com as devidas ressalvas, de arrogante, trucidou os jogadores do Manchester United aquando da inauguração do Alvalade XXI. Alex Fergusson, experimentado treinador nas lides do futebol não o deixaria escapar.

Chegado a Manchester com apenas 18 anos e sem dominar o idioma poderíamos esperar que Ronaldo ficasse na sombra, remetido para os escalões secundários do clube britânico até surgir uma hipótese na equipa principal. Ronaldo não só foi integrado de pronto na primeira equipa como teve uma demonstração impar de abnegação, carácter e superação que fizeram dele o jogador que é hoje em dia. É pública a dedicação quase excessiva de Ronaldo pelo treino, pelo aprimoramento de gestos técnicos, pelo treino físico.

Ronaldo tornou-se génio porque não dormiu à sombra do seu talento, pelo contrário, soube potenciá-lo e -lo no clube certo.

Com pouco mais de 20 anos Ronaldo atingiu o topo do Olimpo.

Há no entanto aspectos perversos no jogador Português que importa ressalvar.

Se no início da sua carreira o seu comportamento foi pautado por um discurso marcadamente para a valorização da estrutura familiar, nomeadamente pela importância da mãe e do falecido pai nos últimos tempos Ronaldo tem-se visto envolvido por um circulo mediático que nada abona em seu favor.

Ao expor a sua vida privada, ao austentar riqueza supérflua e esbanjamento de dinheiro em futilidades após um passado de privação, ao criar por sua própria iniciativa uma guerra entre dois clubes e federações devido ao seu interesse por jogar no campeonato espanhol, ao demonstrar uma faceta birrenta pela transferência ter saído gorada, ao desrespeitar um clube e uns adeptos que lhe proporcionaram tudo o que hoje tem Ronaldo perdeu fora do campo o crédito que vem ganhando dentro dele.

Queira ou não Ronaldo deverá consciencializar-se de que é sinédoque da imagem de Portugal a nível internacional. Tem não só no seu braço a braçadeira de capitão da Selecção nacional mas é o maior embaixador do seu país e por mais que não se queira imiscuir nessa responsabilidade ela não lhe será retirada.

Terá Ronaldo um estofo mental para suster tamanha pressão?

Que se lembre que o difícil não é atingirmos o topo..é mantermo-nos lá.

sábado, 22 de novembro de 2008

Claques: Bodes Expiatórios


No mundo torpe do Futebol as claques, são muitas vezes, o bode expiatório ideal.

Esta semana assistimos a mais um capitulo de uma série que envolve as claques dos principais clubes nacionais.

Este artigo não serve para escamotear o que aconteceu, acontece e acontecerá sempre, apenas procura explicar o fenómeno das claques à luz do fenónemo desportivo.

Claques não são viveiros de criminosos, são apenas microcosmos da própria sociedade, no que ela tem de positivo e no que tem de negativo, no que ela tem de filantrópica, no que ela tem de perversa.

As claques, que são apenas o elemento que mais vivacidade e colorido traz aos recintos desportivos, têm um destaque ínfimo nos órgãos de comunicação. Uma segregação que toma a parte pelo todo, que apenas exalta o que de mau aconteceu, as agressões, os ânimos exaltados, apenas focando elementos geradores de conflitos, mais propícios ao «show-off» preterindo os adeptos ordeiros que dignificam a claque e o clube em si. Uma marginalização que perpassa para a opinião pública e que torna estes adeptos menos propensos à integração.

As televisões que possuem os direitos de transmissão dos jogos, preenchem o apogeu das performances das claques (falo na exibição de panos, tarjas, fumos) com spots publicitários, ignorando os grandes espectáculos visuais que estes grupos proporcionam. Por outro lado, ao mais pequeno distúrbio, as câmaras são focadas incessantemente nas curvas em prejuízo da visualização do próprio jogo.

Nas claques encontramos um pouco de tudo, do desempregado ao trabalhador bem remunerado, do católico ao anticristo, do jurista ao anarquista, do mulherengo sem emenda, ao respeitoso pai de família, do correio de droga, ao escuteiro. As claques são, por isso, autênticos casos de estudo para os sociólogos mais interessados. Mas o que terão as claques de especial para congregarem pessoas tão distintas entre si?

Acima de tudo essas pessoas não estão unidas por interesses individuais, estão ali por amor a um clube, deixam de ter rosto, são apenas uma voz de incentivo. Para os jovens que a sociedade marginaliza, não lhes dando oportunidades de singrar na vida, discriminando-os pela cor da pele ou pelas origens humildes as claques funcionam como importante membro de integração, possivelmente com maior relevância do que Escola ou Família alguma vez terão.

Estar noventa minutos rodeado de pessoas que desconhecemos, mas que têm os mesmos objectivos, estar imbuído num espírito festivo, de movimentos sincronizados e vozes vibrantes constitui, para estes jovens, talvez um dos poucos momentos de realização pessoal que têm. Um fenómeno que, para os que não estão familiarizados com os universos das claques, poderemos ilustrar com o "Flower Power" que o movimento "Hippie" da década de 60 produziu.

Poderemos estar a falar de comportamentos desviantes mas eles são explicados em nome de uma utopia que constitui uma força motriz.

Num mundo de corrupção e tráfico de influência como o é o Futebol agentes desportivos instrumentalizam estes grupos. Tornam-se os seus maiores aliados quando necessitam, tornam-nos os seus exércitos de defesa pessoal, mas são os primeiros a atacá-los quando algo corre mal, usando-as geralmente como bodes expiatórios camuflando os desaires das equipas ou a gestão danosa dos clubes.

Quando muitos deles vêm a público condenar acções das claques, já antes acicataram o ambiente incitando a um clima de hostilidade e de suspeições sobre outros intervenientes. No dia em que os intervenientes que ocupam o topo da hierarquia sejam exemplarmente punidos teremos um efeito de pacificação generalizado nos patamares inferiores.

Como disse não poderemos tomar a parte pelo todo. Por termos noticias que envolvem polícias em esquemas de tráfico de droga isso não torna as polícias, no seu geral, corruptas. Por serem descobertos episódios de pedofilia com membros da igreja isso não faz da Igreja Católica um antro pecaminoso.

Claques não desvirtuam pessoas com princípios mas podem acirrar aqueles que os não tenham.

Se procurarmos entender o dissemelhante e tivermos espirito de abertura mais semelhante ele se tornará.

sábado, 15 de novembro de 2008

Zé Polvinho


A política tal qual um Polvo.

Não é necessário ser-se um leitor atento para, olhando para a política nacional, se reconheça uma intensa teia de relações permiscuas entre órgãos governativos e diferentes poderes.

Como se de um Polvo se tratasse politica e poder económico alargam os seus tentáculos, contornam a legislação e estabelecem um esquema de favorecimentos mútuos que escapa às malhas da Justiça.

Aquilo que se verifica em Portugal é uma absorção, por parte do sector privado, dos grandes cérebros da Gestão, Economia, Engenharias e Advocacia, que são altamente remunerados, com uma carreira estável e independente de ciclos politico-partidários. Pelo contrário quem governa, terá de o fazer um autêntico jogo de expectativas, mediado através da comunicação social (tendencialmente contra-poder) o que se repercute em mandatos curtos que dificilmente excedem duas legislaturas e redunda no descrédito público das figuras governativas.

Manda a lógica que qualquer profissional que se preze, principalmente em conjunturas económicas instáveis, zela pele estabilidade na sua carreira.

Assim sendo enveredar pela carreira politica afigura-se um exercício desgastante e pouco apetecível quando comparado com o auspicioso sector privado. Assistimos então à chegada ao poder de uma segunda linha de dirigentes políticos, mal remunerados e por isso permeavéis a influências.

Representam uma classe politica incapaz de chegar aos compensatórios cargos privados mas que a todo o custo aspira lá chegar e o faz através de concessões múltiplas.


Se olharmos para a proveniência e passado profissional de muitos políticos, que na última vintena de anos, têm passado pela Assembleia da Republica verificamos aquilo que se poderá apelidar de «conflitualidade de poderes».

Falo pois de Advogados, Juristas e profissionais de outros ramos pertencentes a grandes grupos e sociedades que, pela natureza do seu cargo, deveriam zelar pelo bem público mas que, por serem representantes em Portugal de multinacionais, produtos ou marcas, acabam por, de uma forma ardilosa. alterar pontualmente a constituição de forma e aprovar negócios nos quais têm interesse atendível.

Iberdrola, BCP, Mota-Engil, Portucale, Bragaparques, Casino Lisboa, BPN são tantos os exemplos de relações dúbias entre política e poder económico.

Tal como afirma Saldanha Sanches «A corrupção em Portugal é particularmente paralisadora, uma vez que apenas procura obter o máximo do Estado»

Não auguro nenhuma melhoria neste campo nos próximos anos.

Com a crise capitalista que enfrentamos e a necessidade de retoma economica veremos um Estado assegurar uma dupla função. Em primeiro lugar um papel mais interventivo do Estado enquanto agente económico, abandonando a postura neutral em relação ao mercado, assegurando maior inventimento , injectando capital e sendo estimulador económico principalmente através de grandes obras públicas. Por outro lado, teremos um Estado mais manietado perante os custos crescentes com a vertente social (desemprego, saúde).

As impediosas metas económicas tornarão o Governo, seja ele qual for, ávido a avultados investimentos de forma a evitar recessões. Isto significará certamente alimentar as indústrias de base do País, sobretudo a construção cívil.

Aproximam-se tempos díficeis mas certamente não faltarão obras faraónicas: pontes, aeroportos, TGV.


Governar cada vez menos significa adoptar políticas mas sim gerir interesses.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Obama: Ventos de Mudança


Uma força avassaladora.


Barack Hussein Obama desafiou os incrédulos, superou os renitentes, destronou os cépticos.

Se recuássemos quatro anos atrás e o jovem Senador do Illinois manifestasse então o desejo de se tornar Presidente dos EUA as suas declarações seriam alvo de gracejo. Como poderia um cidadão negro, um político inexperiente, um homem não oriundo das dinastias politicas americanas sequer aspirar a tal cargo?

Não só o público em geral soltaria uma gargalhada como também Obama, no seu âmago, largaria um sorriso como que pedindo desculpa por tamanha ousadia.

Em 2008, vemos Obama irromper pela bruma da noite, ladeado por estandartes simétricos "Stars and Stripes", os holofotes estão sobre ele, a multidão ovaciona-o numa euforia tão genuina como arrebatadora. Será este momento real ou apenas mais uma das demonstrações do poder dos simulacros hollywoodescos? Obama de pronto nos dissipa as dúvidas.

«Se existe alguém quem ainda duvida que a América é um sítio onde todas as coisas são possíveis (..) que ainda questiona o poder da Democracia. Tem hoje, aqui, a resposta»

Barack Obama tem razão.

Não foi só uma grande vitória para os Democratas, foi uma vitória para a Democracia global, uma vitória que deveria ser vista por todos nós como um tónico para a mudança.

Não sei explicar o quê, mas há em Obama algo de magnetizador, uma vibrante energia positiva que só encontramos nos mais carismáticos líderes da história da humanidade, algo que perpassa nas suas palavras mas que as transcende.

Algo que mobilizou, como nunca antes na história dos EUA, os cidadãos para as mesas de voto, algo que os fez acreditar na importância da participação cívica e na importância de cada voto singular na mudança de rumo do país, algo que devolveu aos jovens a vontade de ter expressão pública, algo que, numa conjuntura de crise, reuniu ricos e pobres, brancos e negros, novos e velhos,autóctones e imigrantes, católicos e islâmicos na convicção de que a «sua voz poderia ser a diferença».

É este o poder da verdadeira Democracia, unir na diferença.


Um discurso irrepreensível, sem a efusividade que muitos esperariam, mas à inércia postural Obama contrapôs uma cadência rítmica, palavras incisivas ditas com a profundidade de quem quer provocar rupturas.

Obama recordou que nunca foi o candidato provável, que a sua campanha se iniciou com poucos recursos e donativos, que cresceu em razão proporcional à vontade de mudança de cidadãos anónimos, homens e mulheres que viram nele o epicentro de toda a mudança. Alertou para os desafios que se avizinham, propôs reconstruir a América «bloco-a-bloco», lançou o repto à união e ao envolvimento dos cidadãos nesse processo, não cidadãos enquanto indivíduos, mas sim enquanto massas unidas capazes de debelar as feridas profundas causadas por oito anos trágicos.

Num discurso temporalmente tripartido Obama lembrou o passado, acentuou as dificuldades presentes mas remeteu para o futuro uma palavra de esperança, a retoma do sonho americano.

Mais do que uma vitória sem precedentes a história de Obama é a concretização do espírito de missão, do desejo de ir mais além, do desafiar de dogmas, convenções e preconceitos, um poder que está em todos nós e que depende do nosso espírito de iniciativa para vingar.

Obama tem condições para se tornar num dos mais marcantes líderes políticos da história, as suas ideias são inovadoras, o seu discurso optimista, a sua postura humilde.


A história de Obama extravasa o contexto político, é bem mais do que isso, uma lição que nos faz acreditar que podemos mudar o rumo dos acontecimentos mesmo quando ninguém nos dá crédito ou não nos vaticina sorte.

As mudanças afinal começam e acabam em nós mesmos, basta acreditarmos. Obama acreditou e faz-nos acreditar.


Tal como Obama proferiu vezes sem conta «Sim nós podemos!»

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tragédia Bush


Um erro de casting.

Numa alusão à mitologia grega poderemos estabelecer uma analogia entre George W. Bush e a figura de Ícaro.

Ícaro era filho de Dédalo, um dos homens mais criativos e de maior engenho de Atenas. Em comum Pai e filho tinham o anseio da superação, juntos criariam um par de asas tão perfeitas como as das aves, capazes de catapultar o homem para vôos mais altos. Coube a Ícaro testar a invenção do seu Pai, com a ajuda de alguns fios e de cera Dédalo fixou as asas ao corpo do seu filho. Não deixou porém de o advertir, Ícaro não poderia nem voar muito baixo porque o mar molharia as asas nem muito alto porque o Sol derreteria as junções feitas em cera.

Tomado pela sensação de liberdade e omnipotência Ícaro ignorou os conselhos do seu Pai, inspirado pela luz magnetizadora do Sol voou no seu encalço. Acabou por perder a vida despenhando-se no fundo do mar.

Troquemos o nome de Dédalo por George Herbert Bush, o de Ícaro por George W. Bush, as asas pela presidência dos Estados Unidos e teremos uma história de paralelismo perfeito.

Tal como na politica, também na vida George W. Bush lutou pela definição de si mesmo nunca conseguindo afastar a sombra da influência do seu pai; um magistério de influência do qual nunca se conseguiu distanciar desde a adolescência e que se repercutiu em muitas das suas decisões politicas.

O carisma do seu Pai foi sempre para Bush uma força opressora e inibidora do seu próprio desenvolvimento e crescimento emocional.

A missão de se emancipar segundo cânones paternais obrigariam um jovem estudante mediano, intelectualmente preguiçoso a superar-se. Não foram pois de estranhar as constantes crises de identidade durante o seu trajecto de vida. Bush desertou o exército de forma a fugir à guerra do Vietname, teve problemas com álcool e drogas, geriu de forma danosa as empresas petrolíferas da própria família.

Desenganem-se aqueles que pensam que o pior inimigo de Bush foi Bin Laden ou mesmo Saddam Hussein foi-o sim a sua interioridade, o desejo permanente de se emancipar politicamente em relação ao seu pai.

Um estudo do pai da psicanálise permite-nos compreender algumas das tomadas de decisão que Bush teve ao longo dos seus dois mandatos.

Em 1966, Sigmund Freud e William Bullitt elaboraram um estudo de avaliação psicológica do 28º Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. Apesar dos mais de quarenta anos que separam esse estudo da actualidade há nele algo que assenta que nem uma luva na personalidade e no percurso de vida de George Bush, uma só citação a ligar as duas histórias de vida.

«Quando comparamos a força do homem com a magnitude da tarefa a que tinha metido ombros essa paixão é de tal forma avassaladora que se sobrepõe à realidade»

É público que George Bush foi o presidente dos EUA com o QI mais baixo mas foi sobretudo a sua fragilidade emocional que precipitaram o seu colapso. De forma a suprir as suas próprias limitações Bush rodeou-se de um circulo que rapidamente deixou de ser apenas um grupo de conselheiros para integrarem o seu circulo mais intimo: Cheney, Condoleeza Rice, Karl Rove, Collin Powell.

Após ter revelado dificuldades enquanto governador do Texas, Bush apenas se inteirou de politica internacional depois dos 40 anos ao ponto de desconhecer se a Alemanha integrava a NATO (pergunta feita a P.Wolfowitz em 1999), onde ficava o Paquistão, o que eram talibãs e mesmo de ter chamado aos naturais do Kosovo «kosovarianos».

Estas notórias dificuldades de George W. Bush ajudam a explicar que a pasta das relações internacionais tenha sido delegada em Powell, num primeiro mandato e em Rice, no segundo.

Bem aconselhado ou não aquilo que sabemos é que o mundo mudou após oito anos de Governação Bush. Vivemos num espaço marcado pela instabilidade tanto económica com em clivagem civilizacional.

Com a América ferida no seu âmago por atentados terroristas de contornos, no mínimo duvidosos, George Bush encetou uma autêntica caça ao Homem (Bin Laden) que rapidamente se alastrou a toda a comunidade árabe. Ao escolher um alvo de pele escura, vestido com turbante e de longas barbas, Bush declarou guerra a uma sinédoque de toda a civilização árabe, ,uma poderossima guerra psicológica discriminatória.

Embuído no seu espírito de democratização do Mundo George W. Bush invadiu o Afeganistão no encalço de Bin Laden. Bin Laden continua por localizar, o Afeganistão por democratizar.

Em 2003 a administração Bush apontou baterias para o Iraque, mais do que a geopolítica ou a ameaça por parte de Saddam de armas de destruição massiva o Iraque foi uma questão pessoal para a família Bush, uma meta decisiva para, pela primeira vez Bush exorcizar os seus próprios fantasmas de incompetência politica e se demarcar do seu pai.

À luz do que sabemos hoje será consensual afirmar que para lá dos objectivos económicos (é a segunda maior reserva de petróleo do Mundo) o Iraque foi invadido para que a família de Bush fosse vingada. Completando a missão que o Pai tinha deixado a meio no inicio dos anos 90 e derrubando Saddam Bush teria a sua primeira grande vitória política.

As consequências da governação Bush são desastrosas.

As politicas da sua administração reduziram a liberdade dos cidadãos em prol da sua segurança, hoje é possível prender sem mandado de captura, é possível deter por tempo indeterminado, sem respeito pelas convenções de Genébra, hoje as nossas comunicações são mais vigiadas, sofremos as consequências ambientais por Bush ter recusado seguir directrizes ambientais do tratado de Quioto, vivemos com mais dificuldades porque a tensão bélica causou instabilidade nos mercados energético, financeiro, comercial, capitalista.

Bush ascendeu a presidente em 2000 com menos votos que o candidato democrata Al Gore mas com mais delegados eleitos no colégio eleitoral. A sua vitória não foi uma vitória democrática mas uma criminosa campanha urdida num bastião da família Bush onde a recontagem dos votos no Estado da Flórida (administrada por um primo seu) foi decisiva.

Bush saboreou ao longo dos mandatos um decréscimo na sua popularidade (a mais baixa de sempre na historia dos presidentes) e tornou-se um presidente em descrédito numa América que perdeu o seu papel hegemónico a nível politico, económico e diplomático.

Tal como Ícaro Bush almejou voar até ao Sol; acabou por se afundar nas profundas águas do descrédito.

Este artigo pode também ser lido no Portal PTGate

sábado, 1 de novembro de 2008

Crise: Hoje, Ontem, Amanhã

Para que haja um futuro amanhã temos hoje que resolver o futuro de ontem!

A crise financeira, tema de que tanto se tem falado “um pouco” por todo o mundo… Uma crise que até já foi comparada pelo Governador do BCE como de proporções idênticas àquela que a Europa sofreu no pós Segunda Guerra Mundial. Uma crise que foi criada pelo mundo financeiro que, ao longo da última década, exponencializou os seus lucros de uma forma absolutamente insustentável enriquecendo à custa de um sistema canibal de especulação e crédito – crédito habitação, crédito ao consumo, crédito ao crédito e crédito ao crédito para crédito…

Diz-se agora que o subprime não foi uma crise, mas antes o sintoma de uma crise que se avizinhava e a própria crise dos combustíveis parece ter perdido relevância (excepto para todos os que com ela perderam dinheiro nos seus investimentos). Hoje o problema de liquidez entre os bancos piorou, o dinheiro ficou mais caro, os investimentos retraíram com receio desta conjuntura de incerteza, as bolsas ressentiram-se profundamente revelando quedas de proporções avassaladoras, o sistema bancário entrou em colapso e muitas pessoas iniciaram uma corrida aos balcões dos seus bancos com medo de perder o seu dinheiro.

Observámos também nas últimas semanas as primeiras reacções a esta crise a nível mundial. Tivemos um corte das taxas de juro pelo BCE, FED e Reino Unido em 0,5 pontos percentuais (…) e agora os governos tornaram-se fiadores dos bancos criando uma almofada de 20.000Meur, o que tal como o Ricardo Araújo Pereira evidência na sua crónica semanal na revista Visão cria um interessante sistema em que “A troco de apenas algum dinheiro, os bancos emprestam-nos o nosso próprio dinheiro para que possamos fazer com ele o que quisermos.”

É de facto irónico que numa crise com esta dimensão, os primeiros a quem tenhamos que deitar a mão sejam os principais responsáveis pela própria crise e o sector que na última década mais cresceu com lucros cujos valores podem apenas ser classificados pelo comum mortal como absolutamente pornográficos.

No meio de tudo isto certo será que 2008 entra para a história como um ano negro na economia mundial, mas será só isso?

O primeiro-ministro britânico Gordon Brown no seu artigo de opinião no Washington Post fala em aproveitar esta crise para “construiu um mundo novo”. E em sintonia com ele penso que de facto 2008 não será apenas o ano da maior crise económica mundial conhecida desde a Segunda Guerra Mundial. De facto esta será o ano em que economia muda uma vez mais o mundo.

Se pensarmos mais uma vez no pós-Segunda Guerra Mundial, e recordarmos os efeitos do Plano Marshall no mundo podemos perceber o enorme impacto cultural que a Europa sofreu, afinal se não fosse a inundação de capital americano será que hoje estaríamos a comer Big Mac’s no McDonalds em todas as cidades europeias?

Mais tarde e por resultado de outras crises de dimensões diversas, a Europa percebeu que para poder continuar a ocupar o seu lugar no mundo teria que caminhar para um sistema mais global em que os seus países deitariam por terra as suas fronteiras abrindo lugar a um mercado global de livre-trânsito de produtos, serviços e trabalhadores assim como criando um sistema monetário comum… surgiu a União Europeia e posteriormente o Euro.

Hoje a Europa está novamente em dificuldades, mas o capital americano deixou de ser uma solução porque simplesmente não existe.

Não é fácil prever o que acontecerá, talvez até sejam os capitais asiáticos a ajudar-nos desta vez… E essa é uma ideia um pouco assustadora visto que as diferenças culturais entre os nossos continentes são abismais e um choque cultural desta envergadura poderia ser bastante complicado de gerir para a Europa.

Ainda assim, não é uma hipótese a descartar de imediato ainda que seja talvez improvável uma vez que países como a China têm imensos problemas, especialmente de escala nomeadamente no que toca à população, destruição ecológica e escassez alimentar. Isto já para não mencionar o mau timing na sua industrialização que ainda que os tenha tornado numa potência mundial, fê-lo numa altura em que esse parece ser um modelo económico ultrapassado.

Mas especulações à parte as mudanças já começaram um pouco por toda a Europa, e mudar é bom! Parece que caminhamos para um mundo onde as instituições financeiras serão maiores e mais globais, as economias mais unidas; anunciam-se realinhamentos geoestratégicos de potências e alianças, maior intervenção do estado com maiores preocupações sociais, uma maior consciencialização ambientalista dos povos, governos e indivíduos… será provavelmente o fim da história industrial no mundo, o inicio do fim dos combustíveis fósseis e o final na crença do tecnotriunfalismo.

Na Europa assiste-se agora a reposicionamentos dos países mais conservadores no que toca à união dos países europeus o que anuncia um futuro animador para a U.E. com mais união e coesão, sinais estes claríssimos nas declarações dos Primeiros-ministros da Suécia, Frederik Reinfeld e da Dinamarca, Anders Rasmussen, países estes que tinham rejeitado o Euro e que agora declaram que a crise está a revelar a importância de aderir à Moeda Única Europeia.

Esta é uma crise com um potencial enorme, algo que tinha que acontecer de forma a possibilitar o contínuo e sustentável crescimento da economia mundial (sublinhe-se aqui a palavra sustentável).

Os mercados serão limpos de todos os que para eles não tenham suficiente mais-valia, muitos desaparecerão mas os que sobreviverem serão melhores e mais funcionais, muitos vão sem dúvida sofrer com esta crise, mas esse é o processo darwinista que as economias precisam de tempos a tempos para assegurar o seu futuro.

Mesmo os nossos hábitos terão agora que mudar, teremos que atingir níveis mais elevados de eficiência nas nossas vidas pessoais e profissionais, teremos que aprender a usar o crédito de forma mais inteligente, teremos que investir mais e melhor, teremos nos próprios que ser melhores!

Para Portugal, esta crise se bem gerida pode representar uma oportunidade de convergir com o resto da Europa, convergir economicamente, culturalmente e mesmo geograficamente.

O mundo tal como o conhecemos hoje não existirá dentro de 3-5 anos, todas as economias serão diferentes e se trabalharmos para isso e tivermos alguma sorte, todos viveremos melhor.

Ricardo Madeira

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Especial 11 Setembro: Torres Gémeas 2



Poderia um gigante de aço cair tal qual um castelo de cartas?

Neste último vídeo é posta em cheque a queda das Torres Gémeas.

sábado, 18 de outubro de 2008

Magalhães: Vírus Nacional

Em 1519 deu a volta ao mundo, em 2008 o Magalhães parece dar a volta à cabeça de muita gente.

A 27 de Junho escrevi aqui mesmo que seria «interessante ver a mudança de postura de José Sócrates, um Primeiro-Ministro que irá perpassar a imagem de menos colérico, mais tolerante (..) mais terra-a-terra». Meu dito, meu feito.

Naquele que foi o projecto que melhor congregou as duas grandes bandeiras do executivo socialista nesta legislatura (Educação e desenvolvimento tecnológico) assistimos a um PM radiante com a antecipação da quadra natalícia distribuindo portáteis pelas escolas, louvando as benesses que o novo aparelho traria à Escola.

Mecenas que é mecenas é narcisista. Nas vésperas de um ano crucial para as aspirações socialistas seria de espantar que o projecto Magalhães não ganhasse contornos de bom samaritanismo com o Governo a reclamar, para si, o mérito de algo tão pioneiro.

A visibilidade é um pré-requisito democrático e José Sócrates é ímpar na criação de eventos mediatizáveis. Condenável? Não me parece. Apenas a consciência de que na política pós-moderna não existe obra feita caso não haja obra visionada.

Ao contrário de muitas conferências que a antecederam a de apresentação do Magalhães não foi mais uma mera ocorrência tornada acontecimento. Tempos houve em que Sócrates, com toda a pompa e circunstância, anunciava a batalhões de jornalistas decréscimos de 0,4% na pendência processual. Desta vez o caso tinha razão de ser.

Centremos as atenções no que interessa.

Populista ou não, eleitoralista ou não, demagógica ou não o Projecto Magalhães é uma iniciativa meritória e visionária.

Será o pequeno computador a chave para a resolução da crise que se tem crescentemente agudizado? Certamente que não mas ele está embuido num espírito social, numa aposta na formação e inclusão das crianças portuguesas e da gratuitidade do ensino nacional.

Nos dias subsequentes à aparição pública do Primeiro Ministro veio-me à ideia a personagem interpretada por Nuno Lopes nos Contemporâneos. Sim esse tal do "vai mas é trabalhar", um individuo deambulante, que no seu ócio se entretém a criticar tudo e todos sem nexo.

Tudo serviu para criticar uma iniciativa tão ousada que nenhum outro executivo foi capaz sequer de projectar. Ele foram as irregularidades fiscais da empresa fabricante, o facto de os componentes não serem afinal totalmente feitos em Portugal, a fragilidade do computador, as acções de formação obrigatórias, o malhão-malhão do Magalhães.

Algo vai mal neste país. Trata-se de uma cultura que me apraz chamar de "erva daninha", quase como que um vírus informático, um criticismo irracional a tudo, uma desconfiança total em todas as iniciativas que vai minando quaisquer perspectivas de progresso.

Infelizmente este filme não é novo, alias ele encarna bem o espírito luso. Parece que os estou a ver, a gesticular enfurecidos contra as Caravelas lançando impropérios contra a imbecilidade de se navegar por "mares nunca dantes navegados". Esses mesmos, terão sidos os primeiros a receber aplaudindo efusivamente os navegadores portugueses vindos dos novos mundos carregados de ouro e especiarias

Tenho pena mas é o País que temos.

Uma vez mais a atitude de alguns professores vem dar razão a Maria de Lurdes Rodrigues. Para muitos professores, avessos ao espírito de mudança, um computador não é um aliado para os mais pequenos mas um objecto que vem acentuar a sua própria infoexclusão. Numa profissão em que alguns não souberam acompanhar os tempos e ainda ensinam nos mesmo moldes em que foram ensinados há meio século um computador é motivo de pânico presumo.

Para além de mais criticaram tudo aquilo que havia para criticar, a humidade nas paredes, a falta de giz, as refeições em pavilhões, a falta de pessoal não docente, a (não) progressão na carreira, a avaliação, o estatuto do aluno, os exames só faltava o pobre Magalhães para se juntar à lista negra.

Num país de maldizentes espero que o Magalhães sirva para formatar muitos sistemas decadentes e faça "Delete" a muita gente acomodada.

Este artigo pode ser também lido no Portal PTGate

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Especial 11 Setembro: Torres Gémeas 1



Foi certamente o atentado com mais cobertura mediática da história mas teremos visto tudo aquilo que aconteceu no dia 11 de Setembro?

Qual foi a verdadeira causa para o colapso das Torres? Avião? Incêndios? Ou algo que escapou à nossa percepção?

Veja a primeira parte deste vídeo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Especial 11 Setembro: WTC 7



Quantas Torres caíram no dia 11 de Setembro? Duas? Não. Três!

O edifício 7 era sede de instâncias governamentais e de investigação criminal e possuia informação comprometedora para grandes multinacionais e pessoas influentes.

Nenhum avião se despenhou contra ele mas caiu tal e qual as duas Torres Gémeas.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Especial 11 Setembro: Vôo 93



Pouco se sabe sobre este Vôo 93. Reza a história que este terá sido desviado tendo o Capitólio como alvo.

Ter-se-á despenhado devido a um acto heróico da tripulação ou não passou de uma farsa?

Veja algumas das dúvidas que este vídeo levanta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Lugar ao Sol


Terminado mais um Verão continuamos a ser o País à beira mar plantado de sempre. Já o sabiamos...

Aliás o Ministério do Turismo tem-se esforçado para que Portugal fique conhecido como a "West Coast" da Europa. Porém há receios de que a "West Coast" (Costa Este) se confunda com o "Worst Cost" (pior custo) para os turistas.

Em Portugal, o turismo ainda se afigura como o único ramo largamente rentável em que os proventos para o País em muito superam as despesas. O turismo é, dirão alguns, um dos poucos negócios com largas perspectivas de crescimento, a única hipótese para que Portugal saia do marasmo dirão outros.

Apesar de um crescente clima de abertura comercial, ainda é muito difícil para as empresas nacionais imporem-se e fazerem transacções à escala global.

Enquanto povo temos características ímpares na arte de receber os outros. serão porventura resquícios da Diáspora portuguesa, das epopeias maritimas, de sermos um dos primeiros povos realmente que comungou territórios multicontinentais e multiétnicos. Somos pois um povo afamado pela sua hospitalidade, embora muitos vejam nisso um forte substrato de subserviência a tudo que é estrangeiro.

Quem nos visita procura o nosso clima solarengo, as nossas praias, a nossa comida, o nosso estilo de vida mediterrânico, as marcas da nossa história. Mas desenganem-se aqueles que pensam que Portugal só recebe turistas por estes motivos, A "predação" sexual, o baixo custo do álcool e abundância de substâncias ilícitas figuram, cada vez mais, nos roteiros turísticos. Não serão certamente os turistas que Portugal pretenderá no futuro. E urge fazer algo para que o futuro não seja menos risonho que a actualidade.

Com o passar dos tempos, nomeadamente com o advento das novas tecnologias o próprio turismo está a sofrer mudanças e conhecer novos cambiantes.Portugal é ainda um destino turístico predominantemente virado para o turismo de massas, com ofertas padronizadas e vive em demasia de turistas vindos de países com quem tem relações históricas (Espanha e Brasil).

Acontece que com a proliferação das novas tecnologias e com a incomensurável oferta existente na rede o critério para a definição de um destino de férias é cada vez mais o preço independentemente da distância que separa o país de partida do de destino.

Quer isto dizer que uma conjuntura de personalização turística, abertura fronteiriça, de encurtação das distâncias mentais, ajudada pelo desenvolvimento dos transportes, pelo rigor dos transbordos, pela informação massiva disponibilizada por cidadãos comuns na internet tem vindo a revolucionar a oferta turística tendo, gradualmente, minimizado o papel intermediário das agências de turismo.

Portugal terá que se redefinir pois a abertura fronteiriça alarga o mercado concorrencial e permite a entrada de novos players no mercado, países que mesmo não tendo grande tradição no ramo, pela oferta turística diferenciada conseguem atrair fatias do mercado que são o habitual publico alvo do nosso País.

Num mercado global fazer fronteira com determinado(s) País(es) deixou de ser um garante para a atracção de turistas pois há destinos a muitas milhas de distância mas com um exotismo apelativo, com ofertas diferenciadas e bem mais sugestivos para os veraneantes.

Nada mais estará garantido mas Portugal tem condições para manter o seu lugar ao sol.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Especial 11 Setembro: Pentágono



A comissão que analisou o 11 de Setembro de 2001 concluiu que um Boeing 757 se despenhou contra o edifício de segurança norte-americano.

Mas terá sido mesmo isso que aconteceu?

Veja algumas das dúvidas que este vídeo levanta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Especial 11 Setembro: Video 1



É uma opinião unânime entre todos: o 11 de Setembro mudou o Mundo e a forma como encaramos o futuro.

Apesar da cobertura
massiva que teve por parte dos órgãos de comunicação há dúvidas que permanecem por deslindar.

Há no 11 de Setembro factos dúbios, explicações técnicas pouco convincentes, relatórios de comissões demasiado superficiais para a dimensão da tragédia.

Este é o primeiro de uma série de vídeos que se vai debruçar sobre o 11 de Setembro e sobre as mais variadas teorias de conspiração que assolam a cessante administração Bush.

Podemos não acreditar nelas mas afinal a dúvida é a base de todo o conhecimento.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Nélson Évora: Falso Directo



Não é a primeira vez que isto acontece.

O imediatismo e a necessidade de perpassar a sensação de cobertura
instantânea dos acontecimentos leva muitas vezes as televisões a arranjar artimanhas.


Neste video demonstra-se uma simulação de directo por parte da TVI. Infelizmente (para a estação de Queluz) Nélson Évora estava a essa hora em directo...na RTP

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Música Portuguesa: Replay



Oiça, compare e descubra as músicas originais que Tony Carreira, D'ZRT e 4 Taste copiaram

terça-feira, 19 de agosto de 2008

O Padrinho

No Futebol tal como na vida dá jeito ter um padrinho.

Scolari sempre primou por deixar bem patente o porquê do cognome “Sargentão” marcando posições de força, mostrando ser um treinador ávido por criar conflitos antes de cada competição afastando nomes sonantes das suas convocatórias.

Em 2002 deixou Romário de fora do Mundial Coreia-Japão, em 2004, já ao serviço de Portugal, afastou Vítor Baia, em 2008 não convocou Maniche.
Ao longo dos anos em que esteve em Portugal Scolari demonstrou que privilegiaria sempre a coesão do grupo.

Enquanto treinador criou o conceito de “Família Scolari”, uma autêntica blindagem do colectivo, que quase sempre prejudicou jogadores em melhor forma e que trariam outras soluções à equipa das Quinas. No gráfico abaixo poderá ver a evolução das convocatórias de Scolari ao longo das 3 competições que disputou (Euro 2004, Mundial 2006 e Euro 2008)

(Clique na imagem para aumentar)


Scolari convocou 25 jogadores para o Euro 2004 disputado em Portugal. Dois anos mais tarde, no Mundial da Alemanha o seleccionador nacional chamou 23 jogadores, 19 deles tinham estado no Europeu disputado em terras lusas e seriam certamente 20 caso Jorge Andrade não se tivesse lesionado com gravidade.

No espaço de dois anos (entre 2004 e 2006) Scolari não abriu as portas do seu balneário a nenhum talento que estivesse a despontar. Selou a selecção portuguesa a um grupo que detinha a sua restrita confiança.


Bastaria aos jogadores convocados reforçarem o espírito de grupo, integrarem a sua família, serem ordeiros e cumprirem objectivos mínimos para não mais abandonarem o grupo. Iniciou-se uma época de lugares cativos na selecção, de “vacas sagradas” pelo que qualquer jogador independentemente da sua condição física seria chamado por Scolari.

E são muitos os exemplos que se podem referir que demonstram a obsessão de Scolari pela manutenção do grupo. As constantes chamadas de Hélder Postiga mesmo tendo este estado parado a maior parte da época, a convocação de Costinha para o Mundial 2006 apesar do mesmo estar sem clube e em condição física duvidosa, a manutenção constante de Nuno Gomes sem olhar ao seu rendimento desportivo e físico no clube de proveniência e finalmente o autêntico braço de ferro travado para a defesa do guarda-redes Ricardo.


Este é porventura o exemplo mais flagrante da intransigência de Scolari. Ricardo tornou-se um autêntico afilhado do treinador brasileiro que o defendeu com unhas e dentes defendendo muitas vezes o indefensável.


Os anos mais recentes da carreira de Ricardo, entre Sporting, Selecção Nacional e Bétis de Sevilha demonstraram que estamos a falar de um atleta emocionalmente instável. Paulo Bento afastou-o da baliza do Sporting durante largas jornadas por esse mesmo motivo, na selecção provou que nos momentos cruciais falha, o treinador do Bétis de Sevilha relegou-o para o banco após, no início de época, o ter contratado para titular da equipa.

A um guarda-redes pede-se estofo mental e sangue frio qualidades que Ricardo decididamente não possui.


Ricardo falhou na final de 2004, frente à Grécia, num lance em que se esconde por detrás de um jogador ao invés de tentar destemidamente socar a bola e voltou a repetir o mesmo erro perante a Alemanha no Euro 2008. Uma equipa nacional tão aguerrida não merecia um guarda-redes tão displicente na abordagem às jogadas.

Scolari por este motivo e pelo modo como comunicou o abandono da selecção nacional saiu pela porta pequena e com ele caiu um mito chamado Ricardo.

A selecção parte em direcção ao Mundial 2010 com Carlos Queirós finalmente com um sentimento de instauração de critérios meritórios para as convocatórias.

Afinal como o novo seleccionador diz «A Selecção não é um espectáculo com lugares marcados»

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Jogos Sem Fronteiras

A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos 2008 foi avassaladora.

No fundo ela pode ser considerada sinédoque daquilo que é a China: gigante, rigorosa, metódica, sincronizada, tradicional e militarizada.

A cerimónia, na minha opinião, candidata a evento do século foi uma demonstração do poderio organizacional do país do oriente, um refinado reavivar das origens e tradições chinesas que passaram pela invenção do papel, aos trajes típicos até às artes marciais.

Não foi propriamente um evento de exaltação do espirito olimpico e desportivo mas sim uma demonstração de força para todo o mundo ocidental.

Foi ver uma China a uma só voz, de extensos milhares de cidadãos anónimos numa sincronia desconcertante em prol de um só objectivo entensivel áquilo que é o país no domínio laboral.

Segundo uma visão pró-ocidental muitos advogam que os Jogos Olímpicos serão um momento crucial para a abertura de fronteiras da China, para que a sua população se consciencialize de que é explorada e que vive muito abaixo dos padrões de qualidade de vida do ocidente, que o constactar desse facto leve essas multidões a criarem uma rebelião contra o Estado que arruine a coexistência de uma economia de mercado com uma organização laborial feudo-esclavagista.

Obviamente que nenhum destes aspectos foi olvidado pela meticulosa organização chinesa. O rol de restrições é imenso, os hotéis são passados a pente fino, a circulação em zonas populacionais é restricta, a própria comida levada pelo staff dos atletas é confiscada, não se pode fotografar um sem número de locais e até mesmo os desportistas são submetidos a um apertado código restrictivo que inclui estarem proibidos de treinar em locais privados. Treinos só nas instalações criadas propositadamente para o efeito.

Um controlo governamental musculado e implacável a fim de evitar o contágio democrático.

Depois de uma grande tensão internacional depois dos incidentes ocorridos no Tibete a realização destas Olimpiadas demonstra também alguma subserviência da comunidade internacional para com a China. Depois das criticas de amnistia internacional, dos relatos de práticas bárbaras, de detenções de contornos dúbios e mesmo de tortura por parte das autoridades chinesas qualquer país que não tivesse um peso económico tão significativo seria alvo de embargos e de punições. Aos Jogos Olímpicos de 2008 não foi colocada nenhuma barreira, apenas se verificaram alguns "raspanetes" politicamente correctos de líderes mundiais.

Já se falou do plano político, do plano económico, falta no fundo aquele que é naturalmente a razão de ser de um Jogos Olímpicos: o desportivo.

Demonstrar a superioridade física perante as outras nações, sobretudo em relação aos Estados Unidos será o objectivo maior desta competição.

Afinal a China nunca dá o peixe, ensina sempre a pescar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tudo bons Rapazes


Tivesse Noé a braços com uma tormenta em alto mar e se, na sua Arca, em vez animais tivesse classes profissionais a primeira a ir borda fora seria a dos jogadores de Futebol.

Tradicionalmente nos comentários mais sexistas diz-se que os serões familiares passados em frente ao televisor são divididos entre o Futebol para eles e a Novela para elas.

A verdade é que apesar de aparentemente incompatíveis estes formatos, Novelas e Futebol, são feitos do mesmo molde. Afinal de contas ano após ano mudam as caras, mas o enredo é sempre o mesmo.


Tal como no enredo novelesco os futebolistas são arquétipos lineares, ou seja, são aquelas personagens básicas, aquelas que mal surgem no primeiro episódio sabemos que vão acabar sozinhos ou vão ter um acidente fatal. No Futebol tal como nas novelas os jogadores encaixam-se como que se de um elenco se tratasse e há sempre uma perspectiva maniqueísta.

Há o mau da fita, o galã de serviço, o que é meio tosco mas que dá jeito para saber certas e determinadas situações, o durão, o ingénuo, aquele a quem são sempre atribuídas as culpas de qualquer incidente, o pouco inteligente, o sensível, o mal amado, o incompreendido.

Há os que têm dificuldade em se lembrar do argumento. São aqueles que se formam num clube, lhe juram amor eterno, que dizem gostar dele para todo o sempre porque é um clube que luta sempre para ser campeão e que, volvidos alguns anos, se mudam de armas e bagagens para outro país, e que apesar de terem assinado por um clube de meio da tabela voltam a proferir com todo o orgulho "Vim para um grande clube".

No Futebol tal como nas novelas tem que haver sempre alguém que sofra de um estado amnésico e se esqueça do passado para dar algum interesse à trama. São os futebolistas que quando saem de um clube e descansam os adeptos dizendo "Em Portugal só no clube X" e que algumas épocas depois experimentam A, B, C, Y, X e Z.

Depois há também os maus actores. Aqueles que lhe pisam o dedo mindinho do pé e rebolam e choram baba e ranho agarrados ao nariz.

Apraz-me perguntar perante tão maus desempenhos e exemplos porque lhes damos tanto tempo de antena.

Que outras classes com tão poucos dotes de eloquência têm direito a tanto tempo de emissão semanal?

Quantos jovens com projectos credíveis para a sociedade civil têm acesso a este espaço de visibilidade?

Porque damos cobertura de um minuto a um prémio nobel e quinze minutos a um futebolista que resume o seu discurso a meia dúzia de expressões que não são mais do que frases feitas ?


Rubricou hoje uma excelente exibição. Resposta: "O que importa é que a equipa ganhou e eu só estou aqui para ajudar a equipa"

A equipa hoje não esteve ao seu nível Resposta: "Há que olhar em frente, não atirar a toalha ao chão"


A este vácuo intelectual soma-se uma exuberância consumista absurda. Devem ser resquícios da competitividade que lhes és incutida mas até no domínio da "aperaltação" eles competem. Procuram o penteado mais irreverente, a roupa mais chamativa, os acessórios mais absurdos, os carros mais vistosos, esbanjam dinheiros em coisas que não são mais do que puro materialismo.

E são estes os ídolos da juventude..


segunda-feira, 21 de julho de 2008

TVI: Incendiários


Alguém na TVI saberá realmente o significado da expressão responsabilidade pública?

Tenho as minhas dúvidas.

Por volta do ano 2000 a TVI, ao leme de José Eduardo Moniz, enveredou numa estratégia de sensacionalismo que passava pelos programas "reality-show" como o era o Big Brother e por uma impregnação dessa postura no jornalismo. Resultado um jornalismo popular, tablóide, por vezes com conteúdos que em nada se adequam à prática da profissão e ao espaço onde são exibidos.

Contudo, nos últimos anos, o cenário tem-se vindo a alterar gradualmente. Não sei se por força da sedimentação das audiências, da posição estratégica ou por imposição da nova administração (os espanhóis do grupo PRISA) o jornalismo da estação de Queluz tem dado mostras de um incremento qualitativo, tendo mesmo grandes reportagens de grande qualidade. Não sei se também por mero acaso mas a informação da TVI tornou-se mais séria coincidentemente com o afastamento de Manuela Moura Guedes dos espaços noticiosos.

Novamente regressada aos ecrãs e por imperativos de fidelidade a um estilo só seu a "mulher-do-patrão" ressurgiu com o seu tão sobejamente conhecido estilo, não se imiscuindo de misturar informação com opinião pessoal.

Outros aspectos que me irritam são os conteúdos e as expressões usadas constantemente nos espaços informativos da TVI.

"Crise", "Bancarrota", "Apertar de Cinto", "Desespero", "Beco-sem-saída".

Será que alguém na TVI ainda não se apercebeu que todo o país já sentiu as consequências da conjuntura internacional, dos aumentos dos combustíveis, da especulação agrícola, do aumento das taxas de juros?

Será mesmo necessário que uma televisão que tem responsabilidade pública estar meia hora a falar num estilo melodramático a acentuar um desânimo que todos naturalmente sentimos? Não competiria a essa mesma estação abordar a crise e depois procurar mostrar aos cidadãos alternativas para a ela escapar?

Enquanto que um jornalismo positivo impele as pessoas num dinamismo e numa abertura de horizontes, o jornalismo negativo e obtuso da TVI só leva a uma sociedade mente capta de velhos do Restelo.


Afinal ninguém vai a um psicólogo para se sentir pior. Enquanto entidade de responsabilidade pública cabe a TVI, tanto denunciar a conjuntura negativa como mostrar alternativas. Mais do que informar compete-lhe formar.

Outro aspecto prende-se com um jornalista que já aqui elogiei aquando do caso Maddie: Hernâni Carvalho.

Este senhor desempenhou um trabalho ímpar na denuncia das teias de poder que se operavam nos meandros deste caso de contornos dúbios. Fez do seu espírito «incendiário», como o próprio diz, fez da sua força motriz e também do seu estilo acutilante um meio para conseguir ver para além do óbvio conseguindo dados importantes para a investigação.

Apesar de todos os créditos que lhe reconheço há coisas que não posso tolerar.

Qualquer pessoa que tenha o privilégio de aceder à televisão e ter um tempo de antena alargado deve, primeiro, perceber a responsabilidade que lhe está depositada, segundo, saber para quem está a falar.

O jornalista Hernâni Carvalho tem uma rubrica no programa matinal "Você na TV". Não é necessário ser-se um génio em sondagens e audiometria televisiva para sabermos que o público alvo dum programa matutino é essencialmente constituído por idosos, crianças e desempregados, logo uma população mais frágil quer física, quer psicologicamente.

O seu espaço, denominado de "Crime diz Ele" ressuscita a mítica série americana protagonizada por Angela Lansbury, o "Crime disse Ela" (Murder she Wrote). O problema é que Hernâni é recorrente em algo que só tem o condão de criar alarmismo público, essencialmente em falanges da população que são mais vulneráveis. Alguém explique a este senhor que por meia dúzia de bandalhos terem invadido uma esquadra da polícia nem todas as esquadras vão ser invadidas, que por um bebé desaparecer no hospital de Penafiel, nem todos os bebés vão desaparecer e não teremos que instalar chips e pulseiras a torto e direito para evitar essa hecatombe.

Generalizar é tão perigoso, repudiante mesmo.


sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pão e Circo


Todos os portugueses terão sentido um calafrio com o desaire da nossa selecção no Europeu, José Sócrates tê-lo-á sentido ainda mais.


José Eduardo Moniz, director geral da TVI, disse numa crónica ao diário desportivo Record que «A Sócrates este Europeu não podia ter corrido pior». Tomo-lhe o mote.


Se olharmos um pouco à nossa volta à excepção do Futebol, das romarias religiosas e Marchas Populares poucos são hoje os eventos dignos do exaltar do sentimento de pertença.


Pois é, tantos anos volvidos e continuamos a ser um país de “Fado, Futebol e Fátima”.


Mas é no Futebol que me concentro hoje.


Recordemos 2004 já que os últimos anos, por força da distância e dos resultados desportivos tiveram menor exuberância.


Bandeiras desfraldas nas janelas, milhares de pessoas envergando orgulhosamente o verde-rubro, cantando com fervor o nome de Portugal, um País unido em torno de um só objectivo, um País em que brancos e negros, cristãos e muçulmanos, ricos e pobres se uniram com o mesmo entusiasmo exaltando efusivamente os feitos da sua nação.


Se atendermos áquilo que tem sido a conjuntura do nosso Portugal nos últimos anos percebemos que o Futebol tem sido um escape para o défice, para o desemprego, para a fome.


Cada finta de um Cristiano Ronaldo, cada remate certeiro de um Nuno Gomes enche um País de entusiasmo, transmite-lhe sinais positivos, dá motivos para que até o menos bafejado pela sorte possa rejubilar de alegria.


É precisamente deste folclore que vive a politica: Massas, festa, adesão. Não admira pois que o poder político se tente por vezes imiscuir no mundo do Futebol, é a famosa máxima romana do “Pão e Circo”.


Infelizmente para José Sócrates o guarda-redes Ricardo teve uma noite desinspirada. A armada alemã derrubou as defesas lusas numa altura em que o governo socialista se encontrava debaixo de fogo com motins, greves, cortes de abastecimento e para desespero do Governo, como derrota portuguesa no Euro não é viável nem para audiências nem para vendas, a comunicação social voltou a apontar baterias à situação de Estado de sítio que o Pais atravessa.


Aproxima-se 2009 e com ele as eleições legislativas. Será interessante ver a mudança de postura de José Sócrates, um Primeiro-Ministro que irá perpassar a imagem de menos colérico, mais tolerante para com as exigências do povo, mais terra-a-terra. Só assim poderá evitar um aumento da Esquerda (PCP+BE) que lhe retirará a maioria absoluta.


Ou muito me engano ou ainda vai dar incentivos fiscais à Nereida para maiores ganhos de produtividade do nosso Ronaldo. A ver vamos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Euro 2008: Sonho Esfumado

E terminou com uma derrota o sonho luso.

Muitos dirão que terá sido inesperado, que esta selecção tinha potencial para augurar chegar mais longe na competição.

Infelizmente o futebol não se joga com a precisão matemática e pequenos momentos e erros colectivos deitam tudo a perder.

Este foi sobretudo um Euro ambivalente no que toca aos objectivos a atingir. Scolari foi peremptório ao definir como objectivo máximo atingir as meias finais, mas fazê-lo jogo a jogo evitando assim pressão acrescida para os seus pupilos.

Não sei se por motivos de marketing televisivo o broadcaster português que adquiriu os direitos sempre fez perpassar a mensagem de que o objectivo era «chegar a Viena», «levantar a taça». Estranhas estas disparidades entre o discurso oficial e aquele que de quem tem interesses mediáticos..

Culturalmente somos um país que lida mal com o sucesso, basta uma vista de olhos pela história da fundação do nosso país para verificarmos que o Português tem o desenrascanço entranhado no sangue e que é nos momentos em que ninguém nos dá crédito que mostramos de que massa somos feitos. Foi assim em Aljubarrota, foi assim na construção dos Estádios do Euro é assim em tudo.

Portugal não rima definitivamente com superioridade. Ao contrário de outras imprensas que são mais acutilantes nas críticas aos seus jogadores a nossa tece rasgados elogios mesmo que se tratem de jogadores sem provas dadas a nível de selecção. Não que não tenham sido meritórios mas cria-se um estatuto que por vezes não se coaduna com a postura em campo.

O Euro, apelidado pela imprensa do “Ronaldo e Companhia” foi mais companhia do que Ronaldo. Excessivo mediatismo, muitos lances com fintas injustificadas, inúmeras perdas de bola em fase de construção que desequilibraram a equipa. Não foi o Euro do Ronaldo.

Outro aspecto que quebrou a dinâmica da selecção foi o abrir de precedentes de Scolari. Alguém que pede aos jogadores para concentrarem baterias para o euro e esquecerem eventuais contratos e que depois, após a garantia de qualificação anuncia o desertar perde algum respeito. Todos sabemos que estes estágios desportivos vivem num clima “big-brothiano”, ou seja, que devido à exclusão do mundo exterior qualquer estimulo tem uma dimensão incomensuravelmente maior do que se vivido no dia-a-dia. Como se sentirá algum atleta quando alguém que nos jurou lealdade sai alegando motivações financeiras?

Foi uma saída duplamente inglória para Scolari. Mas não esqueceremos o quanto fez pelo nosso país. Nunca.

sábado, 31 de maio de 2008

Fim de uma Era

Todos os dias um novo aumento.

Assim tem sido a escalada do preço dos combustíveis sem que haja qualquer sinal de abrandamento, muito pelo contrário.

Apraz-me dizer que neste processo todo há uma notória especulação e cartelização entre produtores.

Apesar do preço do barril de crude ser negociado em dólares americanos e o dólar estar nitidamente em queda face ao Euro, ao mínimo ajuste na moeda americana dá-se uma (suposta) correspondência na Europa.

Depois há aquilo a que podemos chamar o síndrome de desculpabilização dos aumentos. Tudo serve para justificar a cobrança de mais cêntimos no acto de depósito. Uma simples greve numa plataforma na Venezuela, uma tensão armada entre países vizinhos, umas chuvas na Nigéria, o surto gripal do presidente dos Emirados Árabes Unidos, tudo serve.

No epicentro deste vendaval encontram-se países como Portugal, inteiramente dependentes de energias que provêm de componentes fósseis.

Nos últimos dias temos assistido a reivindicações populares a fim do Governo baixar os denominados ISP, os impostos sobre produtos petrolíferos.

Tal como José Sócrates sublinhou é papel do Governo «não cair na demagogia» e «não dar sinais errados sobre o estado da economia». Descer o imposto sobre combustíveis seria tapar o sol com a peneira, uma medida pontual rapidamente inutilizada pelos aumentos que se avizinham, dizer aos portugueses as energias derivados do petróleo são o futuro.

No que concerne a combustíveis Portugal não necessita de medidas pontuais mas sim estruturais. Para começar que se mudem as mentalidades.

Em Portugal ter carro é ter estatuto, é comodismo.

Basta uma breve deslocação a algumas capitais europeias tais como Londres, Paris ou Amesterdão para desmistificar alguns dos complexos a que assistimos em Portugal. Nestas ditas metrópoles é vulgar vermos empresários deslocarem-se de transportes públicos e até mesmo de bicicleta para os seus empregos. As empresas em vez de oferecerem lugares de estacionamento oferecem passes multiplataforma.

A feira das vaidades portuguesa olha o transporte público com desdém, acha-o plebeu. Para estas pessoas é preferível acordar duas horas antes do início do trabalho, só para enfrentar um pára-arranca de trânsito caótico até ao emprego. Na melhor das hipóteses o Português faz figas para que a maior parte das pessoas opte pelo transporte colectivo só para ter menos carros na estrada a impedi-lo.

Muitas destas pessoas não têm a consciência da dimensão destes aumentos. O que está em questão é muito mais do que mais alguns cêntimos na factura, é toda uma reformulação da forma como gerimos o nosso modus vivendus desde a segunda revolução industrial. Da energia, à construção civil, da confecção, à agricultura temos vivido numa era de petroleocentrismo sem nunca nos termos mentalizado da finitude deste recurso.

O bom disto tudo é que a rarefacção nos leva a ponderar sobre as nossas atitudes e a procurar alternativas.