sábado, 31 de maio de 2008

Fim de uma Era

Todos os dias um novo aumento.

Assim tem sido a escalada do preço dos combustíveis sem que haja qualquer sinal de abrandamento, muito pelo contrário.

Apraz-me dizer que neste processo todo há uma notória especulação e cartelização entre produtores.

Apesar do preço do barril de crude ser negociado em dólares americanos e o dólar estar nitidamente em queda face ao Euro, ao mínimo ajuste na moeda americana dá-se uma (suposta) correspondência na Europa.

Depois há aquilo a que podemos chamar o síndrome de desculpabilização dos aumentos. Tudo serve para justificar a cobrança de mais cêntimos no acto de depósito. Uma simples greve numa plataforma na Venezuela, uma tensão armada entre países vizinhos, umas chuvas na Nigéria, o surto gripal do presidente dos Emirados Árabes Unidos, tudo serve.

No epicentro deste vendaval encontram-se países como Portugal, inteiramente dependentes de energias que provêm de componentes fósseis.

Nos últimos dias temos assistido a reivindicações populares a fim do Governo baixar os denominados ISP, os impostos sobre produtos petrolíferos.

Tal como José Sócrates sublinhou é papel do Governo «não cair na demagogia» e «não dar sinais errados sobre o estado da economia». Descer o imposto sobre combustíveis seria tapar o sol com a peneira, uma medida pontual rapidamente inutilizada pelos aumentos que se avizinham, dizer aos portugueses as energias derivados do petróleo são o futuro.

No que concerne a combustíveis Portugal não necessita de medidas pontuais mas sim estruturais. Para começar que se mudem as mentalidades.

Em Portugal ter carro é ter estatuto, é comodismo.

Basta uma breve deslocação a algumas capitais europeias tais como Londres, Paris ou Amesterdão para desmistificar alguns dos complexos a que assistimos em Portugal. Nestas ditas metrópoles é vulgar vermos empresários deslocarem-se de transportes públicos e até mesmo de bicicleta para os seus empregos. As empresas em vez de oferecerem lugares de estacionamento oferecem passes multiplataforma.

A feira das vaidades portuguesa olha o transporte público com desdém, acha-o plebeu. Para estas pessoas é preferível acordar duas horas antes do início do trabalho, só para enfrentar um pára-arranca de trânsito caótico até ao emprego. Na melhor das hipóteses o Português faz figas para que a maior parte das pessoas opte pelo transporte colectivo só para ter menos carros na estrada a impedi-lo.

Muitas destas pessoas não têm a consciência da dimensão destes aumentos. O que está em questão é muito mais do que mais alguns cêntimos na factura, é toda uma reformulação da forma como gerimos o nosso modus vivendus desde a segunda revolução industrial. Da energia, à construção civil, da confecção, à agricultura temos vivido numa era de petroleocentrismo sem nunca nos termos mentalizado da finitude deste recurso.

O bom disto tudo é que a rarefacção nos leva a ponderar sobre as nossas atitudes e a procurar alternativas.

3 comentários:

  1. http://lobos-imortais.blogspot.com/

    Veja este blog que anda a girar pela internet,era importante divulga lo o mais possivel amanha antes das eleiçoes do psd.
    recebi por mail e ja estou a envia lo tambem,e do nosso instresse benfiquistas isto se denunciar.

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  2. Nada se perde e nada se ganha tudo se transforma…


    Segundo recentes dados do INE a confiança dos consumidores portugueses recuou para mínimos não atingidos nos últimos cinco anos. A culpa… o preço dos cereais que inflacionam os custos com alimentação, o já tão bem conhecido sobrepeso das prestações do credito habitação e claro… os sucessivos aumentos do preço do barril de petróleo
    É de facto, impressionante o impacto que a escalada dos preços dos combustíveis tem tido na vida das pessoas, e se agora, com a gasolina s/chumbo 95 a 1,5€ as coisas estão complicadas, pior estarão no futuro próximo, com o preço do barril a rondar os 200$ (mais cerca de 0.70€ do que actualmente) no final do ano, segundo algumas projecções que parecem, cada vez mais, estar correctas.
    Como foi escrito, as pessoas tem reivindicado a baixa dos ISP e muito temos ouvido sobre isso nos discursos e debates dos candidatos a liderança do PSD, mas essa medida não é tão fantástica como parece. E não é por três motivos: primeiro os impostos não funcionam como reguladores de preços e por isso não se pode fazer ajustes sucessivos consoante o preço do barril, segundo porque se os governos europeus começam a baixar os impostos passam a mensagem aos especuladores que estes podem subir o preço sem quebras acentuadas no consumo já que o(s) estado(s) cria(m) uma almofada para que os consumidores não se ressintam tanto e os consumos se mantenham mais estáveis e finalmente porque não deve haver equívocos, em matéria de consolidação orçamental as despesas são fixas e se um imposto baixar outro terá que subir – é a bela lei de Lavoisier aplicada à economia. Assim poderíamos até ter a gasolina mais barata mas pagaríamos a factura de outra maneira e, pior ainda, sem que os consumos reduzissem pois a maioria dos consumidores não se aperceberiam dos preços reais que estariam a pagar.
    Por outro lado temos as margens de lucro das distribuidoras. Esse é outro problema porque dificilmente se provará a existência de cartel no mercado, até porque o mais provável é que esse cartel não exista (de facto não me parece que num mercado deste género haja sequer necessidade de existir), existindo isso sim, uma concertação de preços, ou seja, os intervenientes do mercado limitam-se a seguir os sinais emitidos pela empresa líder, copiando os seus preços, o que não é de todo ilegal.
    Claro que com isto não defendo que as coisas estão bem, até porque eu próprio sou consumidor assíduo destes combustíveis e a disparidade entre os valores litros e preço assustam qualquer comum mortal, mas creio que o grande problema não está nos preços em si, porque esses tem inevitavelmente que subir para que soluções apareçam no mercado pela mão das renováveis. O grande e grave problema no meu entender é que todo este dinheiro que pagamos nos nossos impostos, quer na gasolina quer em tudo o resto é desperdiçado, mal aproveitado e, arrisco a dizer, muitas vezes mal “alcatroado”.
    Se este dinheiro fosse correctamente investido em áreas essenciais ao desenvolvimento económico do país seriamos mais competitivos e se o fossemos teríamos melhores salários e com melhores salários… adivinhe-se… conseguiríamos pagar a gasolina com outra facilidade.
    Em conclusão concordo que é urgente uma mudança estrutural de mentalidades, mas essa mudança requer gastos quer na reeducar das pessoas quer na criação de infra-estruturas que permitam alternativas viáveis ao uso de veículo pessoal, e estes gastos deviam ser a finalidade desta margem canibal que pago para atestar o meu depósito.

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  3. Pequena correcção acima leia-se 70$ onde diz 0,70€

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