sexta-feira, 20 de março de 2009

Trinta e Um Nacional

Liedson na Selecção: solução para uns, trinta e um para outros.

O reinado de Luis Filipe Scolari ao comando da Selecção das Quinas abriu um precedente na equipa nacional portuguesa, a sua abertura a jogadores nacionalizados.

Não pelo facto em si, não por qualquer manifestação xenófoba, mas sim pelo que ele significa, a abertura do critério de convocação de jogadores nacionalizados para a equipa de Portugal traduziu-se no período penoso que o futebol atravessa neste momento.

Ao utilizar jogadores brasileiros naturalizados, independentemente da sua mais valia desportiva, Scolari deixou cair o Futebol de formação e as selecções mais jovens no puro esquecimento.

Os resultados estão à vista: selecção em processo de renovação, uma segunda linha de opções de qualidade inferior e com pouca rotina ao mais alto nível.

Muitos poderão argumentar que a única condição para se ter direita à prerrogativa de jogar de Quinas ao peito será a obtenção da nacionalidade Portuguesa, logo trata-se de uma barreira meramente jurídica.

O problema é bem mais lato do que uma formalidade burocrática.

Quem quer que esteja à frente dos destinos do Futebol Português deverá ter um apertado critério para a definição daquilo que se quer para o Futebol Luso.

Não é o facto de ter havido excepções que elas se irão legitimar enquanto regra.

Mesmo não concordando totalmente com a nacionalização e convocação de Deco, aceito-a uma vez que foi um jogador que fez um percurso no Futebol Português. Em relação a Pepe é, porventura, o caso em que mais facilmente verificamos o sentimento de pertença, identificação e desejo de representação do País de acolhimento. O passado desportivo de Pepe foi feito em Portugal e o jogador preocupa-se em aproximar o registo oral do seu Português ao Português continental.

Um processo de naturalização traz a estes futebolistas inúmeras vantagens no que toca a cidadania mais sobretudo desportivamente falando.

Com identificação lusa, jogadores como Deco tornam-se jogadores comunitários (existem limitações para jogadores estrangeiros na maioria dos campeonatos), o seu passe desportivo é valorizado, o seu clube de origem receberá mais em caso de transferência e passa a ter mais possibilidades de valorização uma vez que poderá passar a actuar nas mais importantes competições que envolvam Selecções Nacionais.

Nos últimos tempos tem vindo à baila o nome de Liedson.

Portugal sofre de uma carência crónica de ter avançados goleadores mas nem por isso Portugal deverá ceder à tentação de convocar o Levezinho.

Já com mais de 30 anos, com a maior parte da carreira feita no Brasil, ser relações de linhagem familiar ou antecedentes genealógicos que o liguem a Portugal a nacionalização de Liedson é apenas uma formalidade que lhe irá conferir legalmente uma dupla cidadania mas que em nada lhe irá trazer benesses em relação aos jogadores Portugueses.

O principio é simples. O que queremos fazer do Futebol Português?

Torná-lo uma cantera de formação ou um Supermercado onde nos vamos abastecendo consoante as necessidades?

sexta-feira, 13 de março de 2009

TVI24


Depois da SIC e da RTP foi a vez da TVI se lançar, com um canal de informação, na televisão por cabo.
Logo na sua génese a criação deste canal me pareceu um passo arriscado para a Estação de Queluz.
Como mandam as regras do Marketing e dos estudos de mercado antes de lançar um novo serviço há que fazer uma vasta avaliação dos concorrentes a fim de se ter sucesso na profusão do produto.
Como se sabe, o sucesso de qualquer produto depende das expectativas e da imagem mental que a entidade que o promove tem na opinião pública. Ora ai reside o primeiro lapso da TVI. Apesar dos esforços que tem efectuado nos últimos anos, o canal não possui uma informação de referência, ou melhor, de todos os serviços que presta (Informação, Entretenimento. Ficção) a informação será o seu calcanhar de Aquiles.
A juntar a esse facto juntam-se os outros actores no mercado; SIC Noticias e RTP-N possuem já uma posição firmada e uma tradição jornalística incomparavelmente superior ao da TVI.
Transpor para o cabo o tipo de jornalismo sensacionalista característico da TVI, repetindo-o até à exaustão durante 24 horas de emissão seria um autêntico tiro no pé.
Que lógica teria criar um novo produto quem em tudo seria igual ao pré-existente?
Foi pois com grande expectativa que vi as primeiras emissões do TVI24 a fim de estabelecer uma comparação com o tipo de informação praticado no canal-mãe. Como previa a TVI optou por uma estratégia de diversificação, sendo que o TVI24 tem uma informação marcadamente virada para o internacional.
Qualquer pessoa que tenha uma experiência de redacção sabe que a maioria das noticias internacionais, salvo os casos excepcionais onde existem correspondentes ou enviados especiais, são feitas através da compra de serviços de agência.
Quando, por exemplo, assistimos a um "Jornal do Dia" no TVI24, repleto de noticias sobre o Mundo aquilo que estamos a ver é um trabalho realizado inteiramente por jornalistas estrangeiros, imagens filmadas por um operador de câmara exterior à TVI, declarações gravadas por alguém que não pertence aos seus quadros.
Falo num autêntico serviço de outsourcing, no qual os profissionais da TVI apenas terão que editar o que foi feito por outros.
Isto não é jornalismo é serviço de tradução.
O TVI24 será certamente utilizado como tubo de ensaio de programas, como espaço de formação de profissionais e de desenvolvimento de programas temáticos. Apostar nos espaços informativos "puros e duros" será um erro estratégico uma vez que existem actores que oferecem serviços de maior qualidade.
Outro facto prende-se com a estratégia de comunicação do canal. Utilizar o canal TVI para promoção dos programas do TVI24 parece-me, no mínimo, irrisório.
A TVI tem seguramente bem radiografado o seu mercado alvo e quando vemos, num vídeo de promoção, António Peres Metelo a anunciar o programa de economia "Contas à Vida" não estamos a ver as fervorosas consumidoras da ficção da TVI abandonarem as novelas para se inteirarem sobre o Subprime internacional.
Porquê apostar no Mundo em tempo Real quando se é melhor na Ficção?