sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Educação: Déjà Vu


Está a precisar de emprego ou apenas descontente com o que tem neste momento?


Imagine uma profissão em que ter vocação não é um imperativo para que a exerça, imagine uma profissão em que não terá contrapartidas negativas mesmo que não a execute com todo o profissionalismo devido, uma profissão em que todos os que nela ingressam podem aspirar ao topo da hierarquia, uma profissão em que a progressão é automática, uma profissão em que é a variável tempo que determina a subida de estatuto e não a qualidade do serviço prestado, em que a fiscalização é esporádica e pouco rigorosa.

Interessado?

Temo que esta profissão tão apetecível esteja com os dias contados. Falava-vos da profissão de Professor até à entrada em cena da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.

Durante as três décadas que se sucederam ao 25 de Abril a educação tornou-se um sector estagnado.

Apesar de ter sido uma «paixão» de muitos executivos nenhum conseguiu instaurar as tão proclamadas reformas. Sempre que chegava a altura de proceder a mudanças estruturais e se consciencializavam da dimensão das repercussões politicas que teria reformar um sector que envolve um universo tão vasto (famílias inteiras, professores e pessoal não docente) o resultado foi sempre um, manter tudo na mesma.

Durante mais de 30 anos os professores mantiveram o seu status quo intocável, não souberam adaptar-se aos tempos e continuaram a ensinar nos mesmo moldes em que os seus antepassados foram ensinados e continuaram a conceber a escola como um depositário do trabalho individual e não como uma comunidade.

O professor, geralmente mostruário de conteúdos programáticos, apenas ganhou consciência de que integrava uma comunidade aquando de manifestações ou protestos para manter as suas regalias.


É assinalável verificar a imensa mobilização num sector que sempre esteve de costas voltadas para si mesmo

Durante mais de 30 anos pouco mais se exigiu aos professores para além de dar aulas.

Trinta anos depois o Mundo mudou, as crianças estão mais despertas para o que as rodeia, o trabalho em rede e em pares tornou-se um imperativo para o sucesso de qualquer organização, as carreiras deixaram de ser vitalícias (o tão afamado trabalho para a vida vem perdendo expressão) tendo vindo a transformar-se num sistema de trabalho especializado, sazonal e onde vêm a ganhar importância os sistemas meritórios de compensação, muitas vezes mediados por instituições externas.

Talvez a astronomia e astrofísica não sejam domínios de que a maioria dos professores esteja inteirado mas convém perceberem que o Mundo nunca parou de efectuar os seus movimentos de translação. Já não é necessário pagar-se indulgências para se conseguir um lugar no paraíso divino, já ninguém paga corveias para trabalhar nos grandes latifúndios, as mulheres já se emanciparam, o Mundo mudou..

Nos últimos meses temos assistido a greves, manifestações, protestos, motins. Mais do que propostas palpáveis, os acontecimentos mediáticos apenas têm visado criar ruído, denegrir a imagem pública de membros governativos, causar mossa política, criar forças de bloqueio para a execução das reformas, o objectivo não é discutir nada, é criar um ambiente tão hostil que torne as mudanças inviáveis, de preferência afastando a Ministra.

A política dos Sindicatos, encabeçada pelo líder da FENPROF, Mário Nogueira, tem sido essa, um autêntico braço-de-ferro que pretende jogar com os tempos mediático e político aproveitando a demagogia para interesses corporativos.

Num protesto feito de frases feitas, em que muitos protestam sem opinião formada ou sem consciência do que vai mudar, gera-se uma onda de repulsa à mudança porque ela acarreta perda de privilégios.

Os professores não querem ser avaliados pelos pares, não querem quotização na progressão das carreiras, não querem que os pais sejam envolvidos no processo de avaliação, apenas querem um «modelo de avaliação justo», de preferência em que sejam eles próprios a autoavaliar-se, um embuste de avaliação que de nada servirá.

Todos querem reformas menos quando elas colidem com as suas regalias.

Saberão os professores o que realmente querem? Tenho dúvidas.

8 comentários:

  1. concordo plenamente

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  2. É imperioso escrever de uma forma mais desapaixonada. Talvez falar com um professor possa contextualizar melhor a coisa. Importa reflectir para já sobre isto de forma pragmática. Quais os efeitos que esta medida teve no imediato? O que é que já aconteceu? Estamos a caminhar no sentido da qualidade? Abraço.

    http://hermeneuticamente.wordpress.com/

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  3. seria imperioso escrever desapaixonadamente se isto fosse um orgao de comunicacao de difusao nacional, como ainda é um espaço pessoal e de opinioes pessoais ainda posso dar largas à paixao. A contextualizacao é feita através de imensos familiares ligados ao meio, sem "compadrios" politicos com o actual governo, ligados inclusive a agrupamentos escolares. A qualidade é um caminho não somente um destino, mas para que se caminhe é necessario que se deixe caminhar. abraco

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  4. Olá João Pinto
    Penso que há alguns professores que não mereciam isto, mas a grande parte não sabe o que quer.

    Um abraço
    Luís Burgos

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  5. O que escreveu, além de ser de certa forma ofensivo, revela MUITA IGNORÂNCIA em relação à educação e ao ensino. E, quem é ignorante, não deve considerar e julgar sem conhecimento de causa.
    Cumprimentos,
    Gabriel Cordeiro

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  6. Caro Gabriel,

    Agradeco antes de mais a sua participacao.
    Para que saiba quando me debruço num tema do qual nao tenho um conhecimento profundo procuro inteirar-me com quem esteja dentro dele. Estará o senhor Gabriel a dizer-me que profissionais (alguns deles com décadas dedicadas ao ensino), profissionais ainda no activo são ignorantes relativamente à sua própria profissao? Ignorantes porquê? Apenas porque têm uma visao distinta da sua?

    Ignorante nao é o que não sabe..é o que ignora

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  7. pergunte assim como se fosse num referendo: "está disposto a ver aumentada para o triplo a sua participação como contribuinte na modernização das escolas?" ...os portugueses querem mudanças administrativas e curriculares mas fecham os olhos às condições degradantes da maioria das nossas escolas. será que é porque não querem desembolsar?

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  8. Isto não passa de um jogo de interesses com postura comodista por parte dos professores!
    Todo o mundo é avaliado pelo que faz, o trabalhador, o aluno , o politoco, etc...
    O professor não quer ser avaliado porquê? Têm medo de mostrar que por vezes ensinam a pessoas que já sabem mais que elas? Modernizem-se.

    Cumps D.B.

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