segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Quem Tramou Moura Guedes?


Suspensão do Jornal Nacional de Sexta: Um atentado à liberdade de imprensa para alguns, uma inevitabilidade para outros.

O Jornal Nacional de Sexta (JN6) foi um formato claramente pensado na imagem de Manuela Moura Guedes: acutilante, acusativo, provocador.

Apesar de o Jornal, como referiu Moniz em diversas entrevistas, ter sido projectado para um formato de Semanário, visando dar uma abordagem mais profunda aos principais temas da actualidade, logo cedo o JN6 revelou os seus reais propósitos. Ao invés de realçar a actualidade foi, ele mesmo, condicionar a agenda informativa trazendo à baila casos de hipotética corrupção e lançando suspeitas sobre pessoas singulares e colectivas.

Mas terá sido com o paradigmático caso Freeport que o JN6 terá criado o seu grande equivoco.

Semana após semana, deu-se uma instrumentalização de um espaço informativo, enfatizou-se um tema que poucos ou nenhuns desenvolvimentos tinha, criou-se um ruído feito à base do efeito cumulativo e do clima de suspeição instaurado, procurou-se reeditar uma "cacha" jornalistica ao estilo de Watergate, deu-se relevância dogmática a provas que, no nosso sistema jurídico não têm qualquer validade, fez-se uma «caça ao Homem» visando claramente denegrir a pessoa de José Sócrates.

Não quero com isto dizer que o JN6 não estava no direito de divulgar as informações sobre o caso Freeport. Aquilo que não pode fazer é valer-se da sua posição privilegiada para se antecipar às instituições democráticas e promover um julgamento na praça pública visando dai tirar dividendos políticos mesmo que indirectos.

Algo vai mal no jornalismo quando os caprichos pessoais se sobrepõem à agenda mediática.

Semana após semana o JN6 abria fogo cerrado a figuras de destaque, a sectores de actividade e forças politicas. Ministério da Educação, Comícios Científicos, Propaganda Médica, agentes desportivos, bastonários de ordens, reguladores televisivos todos estes temas ou actores foram sujeitos a peças ou entrevistas que inauguraram um estilo híbrido entre a denúncia e a chacota.

O sentimento de omnipotência ética seria porém travado pelo Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto que, em pleno directo, apelidou o espaço informativo de «espectáculo degradante para a informação», sublinhando que Manuela Moura Guedes praticava um «jornalismo que envergonha os verdadeiros jornalistas» violando «sistematicamente o código deontológico».
Aos processos movidos por José Sócrates por difamação acrescentou-se um novo contencioso desta vez com o Benfica que barrou a entrada da TVI e media do grupo às instalações.

Pouco a pouco, o JN6 comecou a ficar esmiuçado por contendas mediáticas, ao invés de se tornar um espaço privilegiado de jornalismo de informação.

Inserido num grande grupo de comunicação como o é a Multinacional espanhola PRISA o cancelamento do JN6 demonstra a acuidade da ligação entre informação e grandes grupos económicos.

A inserção num grupo que tem pressupostos expansionistas no mercado português leva a que os seus accionistas recuem perante um produto da sua marca que condicione ou que esteja em permanentemente em conflito com sectores chave da sociedade.
O cancelamento do JN6 deve-se, na minha opinião, mais a uma tentativa de PRISA se demarcar de ser um "player" incómodo e com isso manter margem de intervenção no mercado português, do que propriamente devido a qualquer pressão politica pré-eleitoral.

O ex-director geral da estação, José Eduardo Moniz viria a considerar esse recuo como «um escândalo a todos os titulos. do ponto de vista politico e do ponto de vista empresarial e do ponto de vista da liberdade de informação em Portugal. Acho escandaloso que esta situação tenha ocorrido. Acho uma enorme falta de verticalidade da parte dos accionistas e acho que acabam de revelar que não têm estatura nem dimensão para terem um órgão de comunicação em Portugal».

Estranha foi também a reacção mediática após a demissão em bloco da direcção de informação da TVI. Ao invés de procurarem questionar quem realmente teve poder decisório (PRISA e Accionistas da Media Capital), procuraram atribuir a José Sócrates a responsabilidade pelas supostas pressões politicas que redundaram na suspensão do JN6.
Um género de Cluedo informativo que tentou encapotar as culpas a todos os protagonistas menos áqueles que, efectivamente, têm esse poder: os accionistas.

O Jornal Nacional de Sexta quis ser predador, acabou por se tornar na presa.
Quem tramou Moura Guedes?

2 comentários:

  1. epa muito mas muito bom. imensos parabens jonas. Vera

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  2. Mas alguém tramou a "COBRA" ou foi ele que sofreu da intoxicação de seu próprio veneno?
    Começou cedo a dar indícios dos seus propósitos venenosos ainda na RTP, pelo que até foi suspensa. Mas o veneno continuou lá. Com o marido em lugar propício, não perdeu tempo em começar de novo ao envenenamento de quantos ainda acreditavam na megera. Só Marinho Pinto lhe fez frente...

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