Outubro de 2007 ficou marcado pelo encerramento da Universidade Independente.
Em Fevereiro, o caso que inicialmente eclodiu como uma crise ligada à gestão de uma instituição superior de ensino privado logo ganhou contornos políticos quando veio à baila o nome do primeiro-ministro José Sócrates.
Aquilo que se afigurava uma "zanga de comadres" entre Luís Arouca e Rui Verde, reitor e vice-reitor respectivamente, tornou-se um escândalo político, uma luta de poderes, uma tentativa de golpe de Estado.
Nos bastidores de uma Universidade descredibilizada em hasta pública deu-se voz, na maioria dos casos, a quem dos queixosos tinha interesses dúbios relativamente à continuidade da instituição.
Embuídos pelo espírito reivindicativo e em busca do protagonismo que alguns frames televisivos concedem retornaram ao ambiente nubloso os Sebastianistas."Alunos" que, na última década, se deve contar pelos dedos as vezes que entraram naquele estabelecimento, tomaram as rédeas do protesto assumindo-se como a pretensa voz dos alunos.
Em nome dos alunos fizeram-se as declarações mais pretensiosas, arrombaram-se portas, houve barricadas humanas, tudo em nome de uma maioria silenciosa. Tomou-se a parte pelo todo. Verde e Arouca, de candeias às avessas esgrimiram, na comunicação social, acusações reveladoras de mediocridade.
Acusações de falências fraudulentas, do uso de verbas da universidade para proveito pessoal, de falsificação de documentos, de avaliação de diamantes nas instalações da universidade. Que futuro poderia ter uma instituição quando as suas autoridades máximas enveredam pela maldicência plebeia?
Num contexto de desaguisados na gestão e inviabilidade económica esqueceu-se o mais importante na estória: o capital humano da universidade.
Durante os meses em que o caso abriu telejornais e fez manchete nos diários a mesquinhez jornalística não soube separar as águas.
O suposto facilitismo académico concedido a José Sócrates criou, no imaginário dos espectadores, a ideia de uma Universidade vendedora de cursos.
O caso Independente não foi seguramente um caso académico foi um caso político. Não foram os (fracos) índices académicos que precipitaram o seu encerramento, a universidade independente ficou associada a um cancro político e nada melhor que a silenciar para que mais nada viesse à tona.
Seria a situação da Independente tão grave ao ponto de ordenar um encerramento compulsivo no prazo de meio ano?
Tomemos como exemplo o também badalado caso Moderna.
Apesar de Mariano Gago ter prometido uma "acção urgente de acompanhamento", de a entidade instituidora, a Dinensino, estar em degradação há longos anos e estar em falência técnica, da universidade estar sem reitor, dos professores não oficializarem avaliações desde 2000, dos conselhos cientifico e pedagógico não funcionarem devidamente, de serem avultadas as dívidas ao fisco e segurança social, de professores se demitirem em bloco, dos alunos terem passado de 10.000 (1997) para 700 (2006), de a Universidade estar ligada ao tráfico de influências, desvio de verbas para consumos de luxo (entre 1997 e 1999 foram gastos com cartões de crédito da Universidade 173 mil contos (862.920 euros), ao tráfico armas, à falsificação de documentos, à apropriação ilícita e financiamento de partidos políticos, de os seus fundadores terem sido condenados a vários anos de cadeira; apesar de tudo isto, a Universidade mantém as portas abertas.
Embora a gravosidade destes estes aspectos não seja mensurável em balança, os aspectos apontados à Independente, à primeira vista, não justificavam a urgência no seu encerramento. À Independente "apenas" se apontaram suspeitas de fraude, burla e gestão danosa.
O motivo que Ministro Mariano Gago alegou para um encerramento compulsivo da Universidade Independente foi justificado por esta se encontrar em "manifesto processo de degradação pedagógica". Justificar o encerramento pela insuficiência académica relativamente ao número de docentes doutorados é uma mentira de todo o tamanho. Mariano Gago sabe que estas normas são apenas directrizes introduzidas com o processo de Bolonha que, naquela instituição, só foi aprovado para o ano lectivo de 2006/2007. Degradação pedagógica implicaria demissão dos docentes relativamente às suas funções, ora mesmo não remunerados os docentes mantiveram-se na Universidade e garantiram a continuidade do semestre.
A verdadeira degradação pedagógica terá ocorrido, isso sim, quando o despacho foi proferido o que levou a uma debandada de alunos da instituição. Mesmo que justificável o encerramento da Universidade Independente é um paradoxo governamental.
Um governo que se mostra tão preocupado com as qualificações académicas dos portugueses, que cria parcerias com a Microsoft, MIT, Carnegie Melon, que cria o programa novas oportunidades, castra assim o percurso académico de 3000 alunos ditando o encerramento urgente de um estabelecimento sem criar alternativas?
O Governo não decretou a abertura de vagas excepcionais noutras universidades, deixou os alunos sozinhos, abandonados à sua iniciativa própria, à mercê das promessas de mundos e fundos da sede necrófega de outras instituições de ensino (privadas) que viram na crise da Independente uma oportunidade de negócio. Para muitos alunos foi certamente o fim de um sonho académico.
Já nada espanta num Governo que fecha urgências, fecha escolas, um Governo que fecha as maternidades às mulheres grávidas e, com o novo código penal, abre a cela aos criminosos.
Invariavelmente neste país quem menos culpa tem é quem mais penalizado é. Desta vez coube a fava aos alunos.
Em Fevereiro, o caso que inicialmente eclodiu como uma crise ligada à gestão de uma instituição superior de ensino privado logo ganhou contornos políticos quando veio à baila o nome do primeiro-ministro José Sócrates.
Aquilo que se afigurava uma "zanga de comadres" entre Luís Arouca e Rui Verde, reitor e vice-reitor respectivamente, tornou-se um escândalo político, uma luta de poderes, uma tentativa de golpe de Estado.
Nos bastidores de uma Universidade descredibilizada em hasta pública deu-se voz, na maioria dos casos, a quem dos queixosos tinha interesses dúbios relativamente à continuidade da instituição.
Embuídos pelo espírito reivindicativo e em busca do protagonismo que alguns frames televisivos concedem retornaram ao ambiente nubloso os Sebastianistas."Alunos" que, na última década, se deve contar pelos dedos as vezes que entraram naquele estabelecimento, tomaram as rédeas do protesto assumindo-se como a pretensa voz dos alunos.
Em nome dos alunos fizeram-se as declarações mais pretensiosas, arrombaram-se portas, houve barricadas humanas, tudo em nome de uma maioria silenciosa. Tomou-se a parte pelo todo. Verde e Arouca, de candeias às avessas esgrimiram, na comunicação social, acusações reveladoras de mediocridade.
Acusações de falências fraudulentas, do uso de verbas da universidade para proveito pessoal, de falsificação de documentos, de avaliação de diamantes nas instalações da universidade. Que futuro poderia ter uma instituição quando as suas autoridades máximas enveredam pela maldicência plebeia?
Num contexto de desaguisados na gestão e inviabilidade económica esqueceu-se o mais importante na estória: o capital humano da universidade.
Durante os meses em que o caso abriu telejornais e fez manchete nos diários a mesquinhez jornalística não soube separar as águas.
O suposto facilitismo académico concedido a José Sócrates criou, no imaginário dos espectadores, a ideia de uma Universidade vendedora de cursos.
O caso Independente não foi seguramente um caso académico foi um caso político. Não foram os (fracos) índices académicos que precipitaram o seu encerramento, a universidade independente ficou associada a um cancro político e nada melhor que a silenciar para que mais nada viesse à tona.
Seria a situação da Independente tão grave ao ponto de ordenar um encerramento compulsivo no prazo de meio ano?
Tomemos como exemplo o também badalado caso Moderna.
Apesar de Mariano Gago ter prometido uma "acção urgente de acompanhamento", de a entidade instituidora, a Dinensino, estar em degradação há longos anos e estar em falência técnica, da universidade estar sem reitor, dos professores não oficializarem avaliações desde 2000, dos conselhos cientifico e pedagógico não funcionarem devidamente, de serem avultadas as dívidas ao fisco e segurança social, de professores se demitirem em bloco, dos alunos terem passado de 10.000 (1997) para 700 (2006), de a Universidade estar ligada ao tráfico de influências, desvio de verbas para consumos de luxo (entre 1997 e 1999 foram gastos com cartões de crédito da Universidade 173 mil contos (862.920 euros), ao tráfico armas, à falsificação de documentos, à apropriação ilícita e financiamento de partidos políticos, de os seus fundadores terem sido condenados a vários anos de cadeira; apesar de tudo isto, a Universidade mantém as portas abertas.
Embora a gravosidade destes estes aspectos não seja mensurável em balança, os aspectos apontados à Independente, à primeira vista, não justificavam a urgência no seu encerramento. À Independente "apenas" se apontaram suspeitas de fraude, burla e gestão danosa.
O motivo que Ministro Mariano Gago alegou para um encerramento compulsivo da Universidade Independente foi justificado por esta se encontrar em "manifesto processo de degradação pedagógica". Justificar o encerramento pela insuficiência académica relativamente ao número de docentes doutorados é uma mentira de todo o tamanho. Mariano Gago sabe que estas normas são apenas directrizes introduzidas com o processo de Bolonha que, naquela instituição, só foi aprovado para o ano lectivo de 2006/2007. Degradação pedagógica implicaria demissão dos docentes relativamente às suas funções, ora mesmo não remunerados os docentes mantiveram-se na Universidade e garantiram a continuidade do semestre.
A verdadeira degradação pedagógica terá ocorrido, isso sim, quando o despacho foi proferido o que levou a uma debandada de alunos da instituição. Mesmo que justificável o encerramento da Universidade Independente é um paradoxo governamental.
Um governo que se mostra tão preocupado com as qualificações académicas dos portugueses, que cria parcerias com a Microsoft, MIT, Carnegie Melon, que cria o programa novas oportunidades, castra assim o percurso académico de 3000 alunos ditando o encerramento urgente de um estabelecimento sem criar alternativas?
O Governo não decretou a abertura de vagas excepcionais noutras universidades, deixou os alunos sozinhos, abandonados à sua iniciativa própria, à mercê das promessas de mundos e fundos da sede necrófega de outras instituições de ensino (privadas) que viram na crise da Independente uma oportunidade de negócio. Para muitos alunos foi certamente o fim de um sonho académico.
Já nada espanta num Governo que fecha urgências, fecha escolas, um Governo que fecha as maternidades às mulheres grávidas e, com o novo código penal, abre a cela aos criminosos.
Invariavelmente neste país quem menos culpa tem é quem mais penalizado é. Desta vez coube a fava aos alunos.
"Nem os cães são tratados assim..."
Cartoon da autoria de Luís Veloso
Cartoon da autoria de Luís Veloso
É pá. Concordo contigo. Pelo menos merece um comentário. É triste mas verdade, nem a um cão!!!
ResponderEliminarNão conheci a universidade por dentro mas parece historia mal contada..o cartoon diz tudo
ResponderEliminarGostei do artigo mas foi um pouco emotivo, o que se compreende, continua assim.
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