Columbine não serviu de lição.
Uma vez mais na América, uma vez mais numa Universidade, uma vez mais um jovem tem acesso a armas de fogo, uma vez mais dezenas de inocentes mortos.
A 20 de Abril de 1999 os Estados Unidos acordavam para mais uma tragédia. O reputado Instituto Columbine, Colorado, seria palco de uma carnificina atroz. Eric Harris de 18 anos e Dylan Klebold de 17 assassinaram 13 colegas recorrendo a armas de fogo e dezenas de explosivos.
Desta vez, em 2007, o alvo foi a Universidade Técnica da Virginia. Amanhã, caso tudo continue como até agora, um outro estabelecimento poderá ser o seguinte.
Cho Seung-hui, de origem sul-coreana tinha 23 anos e era, segundo relatos de familiares e colegas, um jovem timido e introspectivo mas brilhante.
Cho Seung, apesar de ter perpetrado o massacre no campus universitário, é uma vitima. Vitima do sistema americano de liberalização de armas, um sistema que permite a qualquer cidadão americano maior de idade e sem antecedentes criminais comprar uma arma de fogo.
Um sistema em que para comprar uma arma usada não é necessário apresentar a folha criminal nem exames que atestem a sanidade mental do comprador. Um sistema em que as armas e balas são vendidas em supermercados e cujos preços variam entre os 88 e os 432 euros.
Um sistema em que a NRA (National Riffle Association), uma associação de defesa do porte de armas com 3 milhões de associados, tida como a sucessora do Ku Klux Klan é financiada pelo Estado e constitui um dos maiores lobbies do país.
O jovem é pois vitima de uma sociedade violenta, obcecada pela posse de armas, com forte segregação racial na qual possuir uma arma é um direito consagrado constitucionalmente e que "não deve ser infringido (...) para a segurança de um estado livre".
Mais assustadoras que o massacre em si são as reacções ao mesmo. Paul Craig Roberts, um comentador conservador, que já pertenceu à administração Reagan reagiu da seguinte forma aos incidentes na Virgina:
"As trágicas mortes dos estudantes, aparentemente por uma pessoa insana, activarão novas tentativas de se banir a propriedade privada das armas. Assim que as armas forem banidas, a criminalidade explodirá. Donas de casa e membros vulneráveis da sociedade perderão a capacidade de se defender, abrindo espaço para mais invasões e ataques. A quantidade de crimes com armas brancas aumentará, assim como já ocorre na Grã Bretanha. A proibição de armas criará uma nova actividade para os criminosos como o tráfico de armas e vendas no mercado negro."
Curiosamente o campus universitário permanece, nos Estados Unidos, como um dos poucos locais em que a entrada de armas ainda é proibida.
Poderíamos pensar que o lobby do armamento é exclusivo da NRA mas a posse de armas é algo tão intrínseco à população americana que ela própria exerce pressão para que sejam totalmente liberalizadas.
Numa entrevista ao portal Diário Digital, Alex Newman, 21 anos, estudante de Jornalismo na Universidade da Flórida diz que se fosse permitida a entrada de armas na Universidade Técnica da Flórida "iria haver alguém com uma, que soubesse usá-la e que podia parar o atirador. Pelo menos haveria menos pessoas mortas. Queremos mais pessoas com armas, só assim as vitimas estarão em pé de igualdade com os criminosos."
É sintomático de uma sociedade violenta quando, na mentalidade de um jovem, está enraizado o principio de que a melhor defesa é o ataque.
Foi preciso morrerem mais 32 pessoas para que o debate sobre a proibição de armas de fogo fosse relançado. Como referiu oportunamente Rui Tavares (Público, nº 6229, Pingue-Pingue) o chavão mais comum para os defensores da posse de armas nos EUA é "não são as armas que matam pessoas, as pessoas é que o fazem".
Segundo a Visão nº 737 existem 192 milhões de armas nos lares americanos, 100 milhões de dólares é o valor que o lobby pró-armas dispende anualmente para campanhas políticas, 30 mil pessoas morrem todos os anos nos EUA devido a incidentes com armas e 30 por cento da população tem uma ou mais armas em casa.
É fácil percebermos agora os constantes vídeos de perseguições a criminosos em plena auto-estrada ou tiroteios em estações de serviço, todos eles filmados nos EUA. O medo causado na população obriga qualquer cidadão responsável a autodefender-se. E na América segurança é sinónimo de dedo no gatilho. Parafrazeando Cho Seung-hui os Americanos "têm sangue nas mãos e nunca vão conseguir limpá-las."
Num CD enviado pelo próprio à NBC e que continha fotos, videos e algumas páginas de texto Cho Seung-hui dizia o seguinte: "Vocês devastaram o meu coração e queimaram a minha consciência. Acreditavam que estavam a extinguir a vida de um menino patético. Graças a vocês, morro como Jesus Cristo, para inspirar gerações futuras de pessoas frágeis e indefesas"
Que Cho permaneca na mente dos americanos como um inspirador, um inspirador de mudança para que, de uma vez por todas, o Estado bana as armas de fogo e repense a sua politica exterior hostil. Quantas mais "pessoas frágeis e indefesas" terão que morrer?
Artigos Relacionados:
Cho Seung: NBC: O Pender da Balança
Uma vez mais na América, uma vez mais numa Universidade, uma vez mais um jovem tem acesso a armas de fogo, uma vez mais dezenas de inocentes mortos.
A 20 de Abril de 1999 os Estados Unidos acordavam para mais uma tragédia. O reputado Instituto Columbine, Colorado, seria palco de uma carnificina atroz. Eric Harris de 18 anos e Dylan Klebold de 17 assassinaram 13 colegas recorrendo a armas de fogo e dezenas de explosivos.
Desta vez, em 2007, o alvo foi a Universidade Técnica da Virginia. Amanhã, caso tudo continue como até agora, um outro estabelecimento poderá ser o seguinte.
Cho Seung-hui, de origem sul-coreana tinha 23 anos e era, segundo relatos de familiares e colegas, um jovem timido e introspectivo mas brilhante.
Cho Seung, apesar de ter perpetrado o massacre no campus universitário, é uma vitima. Vitima do sistema americano de liberalização de armas, um sistema que permite a qualquer cidadão americano maior de idade e sem antecedentes criminais comprar uma arma de fogo.
Um sistema em que para comprar uma arma usada não é necessário apresentar a folha criminal nem exames que atestem a sanidade mental do comprador. Um sistema em que as armas e balas são vendidas em supermercados e cujos preços variam entre os 88 e os 432 euros.
Um sistema em que a NRA (National Riffle Association), uma associação de defesa do porte de armas com 3 milhões de associados, tida como a sucessora do Ku Klux Klan é financiada pelo Estado e constitui um dos maiores lobbies do país.
O jovem é pois vitima de uma sociedade violenta, obcecada pela posse de armas, com forte segregação racial na qual possuir uma arma é um direito consagrado constitucionalmente e que "não deve ser infringido (...) para a segurança de um estado livre".
Mais assustadoras que o massacre em si são as reacções ao mesmo. Paul Craig Roberts, um comentador conservador, que já pertenceu à administração Reagan reagiu da seguinte forma aos incidentes na Virgina:
"As trágicas mortes dos estudantes, aparentemente por uma pessoa insana, activarão novas tentativas de se banir a propriedade privada das armas. Assim que as armas forem banidas, a criminalidade explodirá. Donas de casa e membros vulneráveis da sociedade perderão a capacidade de se defender, abrindo espaço para mais invasões e ataques. A quantidade de crimes com armas brancas aumentará, assim como já ocorre na Grã Bretanha. A proibição de armas criará uma nova actividade para os criminosos como o tráfico de armas e vendas no mercado negro."
Curiosamente o campus universitário permanece, nos Estados Unidos, como um dos poucos locais em que a entrada de armas ainda é proibida.
Poderíamos pensar que o lobby do armamento é exclusivo da NRA mas a posse de armas é algo tão intrínseco à população americana que ela própria exerce pressão para que sejam totalmente liberalizadas.
Numa entrevista ao portal Diário Digital, Alex Newman, 21 anos, estudante de Jornalismo na Universidade da Flórida diz que se fosse permitida a entrada de armas na Universidade Técnica da Flórida "iria haver alguém com uma, que soubesse usá-la e que podia parar o atirador. Pelo menos haveria menos pessoas mortas. Queremos mais pessoas com armas, só assim as vitimas estarão em pé de igualdade com os criminosos."
É sintomático de uma sociedade violenta quando, na mentalidade de um jovem, está enraizado o principio de que a melhor defesa é o ataque.
Foi preciso morrerem mais 32 pessoas para que o debate sobre a proibição de armas de fogo fosse relançado. Como referiu oportunamente Rui Tavares (Público, nº 6229, Pingue-Pingue) o chavão mais comum para os defensores da posse de armas nos EUA é "não são as armas que matam pessoas, as pessoas é que o fazem".
Segundo a Visão nº 737 existem 192 milhões de armas nos lares americanos, 100 milhões de dólares é o valor que o lobby pró-armas dispende anualmente para campanhas políticas, 30 mil pessoas morrem todos os anos nos EUA devido a incidentes com armas e 30 por cento da população tem uma ou mais armas em casa.
É fácil percebermos agora os constantes vídeos de perseguições a criminosos em plena auto-estrada ou tiroteios em estações de serviço, todos eles filmados nos EUA. O medo causado na população obriga qualquer cidadão responsável a autodefender-se. E na América segurança é sinónimo de dedo no gatilho. Parafrazeando Cho Seung-hui os Americanos "têm sangue nas mãos e nunca vão conseguir limpá-las."
Num CD enviado pelo próprio à NBC e que continha fotos, videos e algumas páginas de texto Cho Seung-hui dizia o seguinte: "Vocês devastaram o meu coração e queimaram a minha consciência. Acreditavam que estavam a extinguir a vida de um menino patético. Graças a vocês, morro como Jesus Cristo, para inspirar gerações futuras de pessoas frágeis e indefesas"
Que Cho permaneca na mente dos americanos como um inspirador, um inspirador de mudança para que, de uma vez por todas, o Estado bana as armas de fogo e repense a sua politica exterior hostil. Quantas mais "pessoas frágeis e indefesas" terão que morrer?
Artigos Relacionados:
Cho Seung: NBC: O Pender da Balança
Bem vindos ao "american dream"! A terra prometida onde todos podem e devem ser portadores de armas e onde ainda assim os numeros dizem que é 100 vezes mais provavel uma crianca morrer afogada numa piscina por negligencia dos mais velhos do que por vias de armas de fogo... No dia em que os americanos passarem a fazer sentido, perdem piada toda...
ResponderEliminarExcelente artigo e muito bem pesquisado adoro a situação do Paul Craig Roberts tens de me dizer onde encontras-te isso continua.
ResponderEliminarAs armas têm uma só finalidade: matar. Quer pertençam a pessoas pacíficas ou violentas, a sua finalidade é exclusivamente matar. De uma arma nunca se pode esperar mais do que isso. É a estupidez no seu auge que mata, as armas são apenas um subproduto dessa estupidez e os amercianos -mais do que qualquer outro povo- usam-nas (para matar). Lá no fundo, construir armas é cometer o suicídio da raça humana. Vejamos o exemplo que o Estado Americano (e muitos outros) dá aos seus cidadãos ao construir de forma maciça e crescente armas nucleares: a capacidade para aniquilar a Terra milhares de vezes (!) e, por isso, qualquer país. Isto é estupidez no seu auge. O ser-humano está-se a matar (como o fez já tantas vezes); não devia ser ao contrário??!!
ResponderEliminarNo Brasil tambem quiseram fazer um levantamento dar armas mas descobriram k fazendo isso estariam a fomentar o poder dos criminosos k continuariam com acesso as armas...é um problema complexo
ResponderEliminar